Especialistas apontam impactos emocionais do isolamento social involuntário vivido por muitas mulheres após a chegada dos filhos
A maternidade é frequentemente idealizada como uma fase plena e romântica, mas a realidade de muitas mulheres é atravessada por sentimentos de solidão e exclusão social. Amizades que se afastam, convites que deixam de ser feitos e a sensação de não pertencer mais ao mesmo círculo de convivência tornam-se parte da rotina de várias mães.
Segundo a psiquiatra Adriana Gatti, o tema é recorrente em consultórios: “É muito difícil atender uma mãe que não se queixe de solidão. É mais comum do que se imagina, e precisamos falar sobre isso”, alerta. A médica lembra que o isolamento pode gerar insegurança, baixa autoestima e um profundo sentimento de invisibilidade.
Isolamento cultural e social
A fundadora da comunidade Mommys, Mariana Bicalho, observa que ainda há um julgamento cultural de que mães não podem se divertir ou participar de eventos sem os filhos. “Muitas vezes, as mulheres são vistas apenas pelo papel materno, como se não tivessem direito a uma vida própria. Isso contribui para a exclusão e para o afastamento social”, explica.
Na comunidade online que reúne mais de 10 mil mulheres da Grande BH, o tema é discutido constantemente. Entre as principais queixas estão a falta de convites para encontros sociais, a dificuldade de adaptação dos programas à nova realidade e o preconceito contra a presença de crianças em determinados ambientes.
Impactos emocionais
De acordo com a psicóloga Tamires Aquino, a solidão materna pode agravar quadros de sofrimento psíquico e comprometer até mesmo o vínculo entre mãe e bebê. “A ausência de redes de apoio potencializa sentimentos de desamparo, irritabilidade, choro frequente e culpa. Em muitos casos, a maternidade passa a ser associada ao isolamento, o que aumenta o impacto emocional negativo”, explica.
A especialista ressalta que a solidão atinge mulheres de diferentes classes sociais, mas de formas distintas: enquanto mães com menos recursos enfrentam maior sobrecarga devido à falta de apoio financeiro e estrutural, aquelas com maior poder aquisitivo, mesmo com acesso a babás ou serviços domésticos, também relatam sentir o afastamento social.
A importância da empatia
Para os especialistas, a chave está em adaptar encontros, acolher as mães e lembrá-las de que sua identidade vai além do papel materno. “Continuem convidando as mães, mostrem que são bem-vindas, com ou sem os filhos. A identidade delas não pode se resumir apenas à maternidade”, enfatiza Mariana Bicalho.
A psiquiatra Adriana Gatti reforça: “A mãe precisa de relações sociais, precisa ter vida fora dos filhos. Sem essa compreensão, o isolamento se torna um fardo ainda mais pesado de carregar”.
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📷 Foto: iStock / Oscar Martin
✍️ Texto: Bruno Mateus — O Tempo