Pesquisas recentes têm mostrado que os micro-organismos que habitam o corpo humano — especialmente os que vivem no intestino e na boca — podem influenciar diretamente a qualidade do sono. A descoberta abre caminho para possíveis novos tratamentos de distúrbios do sono, como insônia e apneia, segundo reportagem publicada pela BBC.
De acordo com cientistas, o corpo humano abriga bilhões de bactérias, vírus e fungos que formam a chamada microbiota. Estudos indicam que o equilíbrio e a diversidade desses micro-organismos estão relacionados à duração e à qualidade do sono. Pessoas com maior variedade microbiana tendem a dormir melhor e por mais tempo, enquanto aquelas com microbiota reduzida apresentam maior incidência de insônia e distúrbios metabólicos.
Pesquisas também sugerem que o desequilíbrio do microbioma intestinal pode afetar o sistema imunológico e dificultar a regulação de gorduras e açúcares — fatores ligados ao aumento do risco de diabetes, obesidade e doenças cardíacas. Um dos estudos citados mostrou que indivíduos com “jet lag social”, ou seja, que alteram significativamente os horários de sono entre a semana e o fim de semana, apresentaram mudanças na composição microbiana do intestino.
Segundo a professora Jennifer Martin, da Universidade da Califórnia, os distúrbios do sono e o desequilíbrio da microbiota têm uma relação de mão dupla. Ela explica que, enquanto noites mal dormidas podem prejudicar a flora intestinal, um microbioma desregulado também pode causar inflamações e dificultar o sono.
Outros pesquisadores apontam que alguns micróbios produzem substâncias químicas como dopamina, serotonina e ácido butírico, que são neurotransmissores e podem afetar o sono diretamente. Em contrapartida, a falta de certas bactérias pode reduzir esses compostos e favorecer o surgimento de problemas como apneia e roncos.
Há ainda estudos experimentais com transplantes fecais que reforçam a hipótese da influência microbiana no sono. Em um deles, camundongos que receberam microbiota de pessoas com insônia passaram a apresentar comportamento semelhante à privação de sono.
Os cientistas acreditam que, no futuro, probióticos e prebióticos específicos — ou seja, suplementos e alimentos capazes de restaurar o equilíbrio da flora intestinal — poderão ser usados como parte do tratamento de distúrbios do sono. Ainda assim, os especialistas ressaltam que são necessários ensaios clínicos mais amplos para confirmar os efeitos e garantir a segurança dessas intervenções.
As descobertas reforçam que o sono saudável depende de diversos fatores — não apenas psicológicos, mas também biológicos e nutricionais —, e que o equilíbrio da microbiota pode ser um novo aliado para melhorar a qualidade do descanso e a saúde geral.
Fonte: BBC / BBC Future
Foto: Getty Images / BBC
