Um estudo publicado na revista Environmental Research em 24 de setembro revelou que 69,3% das 1.024 praias brasileiras analisadas estão poluídas por microplásticos. Esses fragmentos, que medem menos de cinco milímetros, podem impactar a biodiversidade, a segurança alimentar, a saúde humana e as atividades econômicas no ambiente marinho e costeiro. A pesquisa faz parte do projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano), e é considerado o levantamento padronizado mais extenso realizado não apenas no Brasil, mas em todo o Sul Global.
Guilherme Malafaia, professor do Departamento de Ciências Biológicas do IF Goiano e coordenador da pesquisa, destacou a importância do MicroMar, que oferece uma visão abrangente da contaminação por microplásticos nas praias brasileiras, gerando um banco de dados inédito. Thiarlen Marinho da Luz, doutorando em Biotecnologia e Biodiversidade pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e primeiro autor do artigo, enfatizou que o estudo não se limita a identificar a presença de plásticos, mas também a localizar os mais perigosos e as áreas com maiores riscos.
O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) está acompanhando as pesquisas sobre o tema e ressaltou a importância da Estratégia Nacional Oceano sem Plástico (ENOP), uma iniciativa do governo federal que visa coordenar ações para a prevenção e eliminação da poluição por plástico nos oceanos até 2030.
Para identificar os microplásticos e seus riscos, os pesquisadores selecionaram 1.024 praias em 211 municípios de todos os 17 estados costeiros do Brasil, cobrindo cerca de 7,5 mil quilômetros de litoral. Entre 2022 e 2023, foram coletadas 4.134 amostras de areia, que foram analisadas em laboratório. A pesquisa revelou que os estados com as maiores concentrações de microplásticos foram Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco.
Das 30 praias com maior concentração de microplásticos, oito estavam em Pontal do Paraná, com a praia Barrancos liderando o ranking, apresentando 3.483,4 itens por quilograma de areia. A prefeitura local, ao ser questionada, afirmou não ter conhecimento do estudo e sugeriu que os materiais poderiam ter chegado ao município por correntes marítimas. O Índice de Perigo do Polímero (PHI) foi calculado para medir a toxicidade dos microplásticos encontrados, com os maiores valores registrados em Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão e Pará.
O estudo também combinou a quantidade de microplásticos com o perigo dos materiais, resultando no Índice de Risco Ecológico Potencial (PERI). A praia Paraíso, em Torres (RS), apesar de ter poucos microplásticos, apresentou amostras de materiais mais tóxicos, como o PVC, e ficou no topo do ranking.
Guilherme Malafaia explicou que os microplásticos podem ser ingeridos por organismos marinhos, afetando a nutrição e reprodução dessas espécies, o que compromete todo o ecossistema. Para os seres humanos, a principal preocupação é o consumo de peixes e frutos do mar contaminados. Embora a presença de microplásticos na areia não represente um risco direto de intoxicação para os banhistas, esses fragmentos podem absorver metais pesados e microrganismos patogênicos.
A pesquisa identificou que a proximidade de galerias de águas pluviais, esgoto e áreas urbanizadas contribui significativamente para a poluição. Os pesquisadores apontaram a necessidade urgente de conter o lixo antes que chegue ao mar, reduzir a carga plástica nas bacias hidrográficas e implementar metas regionais de monitoramento.
Apesar dos alertas, o combate à poluição por plásticos enfrenta desafios. Um acordo histórico no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi bloqueado por países produtores de petróleo. No Brasil, dois projetos de lei de 2022 ainda estão em tramitação, visando restringir plásticos de uso único e instituir a Política Nacional de Economia Circular. O MMA acredita que a ENOP pode mudar o cenário, promovendo ações em todo o ciclo de vida do plástico.
Thiarlen Marinho da Luz ressaltou que, embora a sociedade esteja ciente do problema, falta ação efetiva.
Crédito da foto: Adobe Stock. Fonte: g1.