Casal constrói santuário para animais feridos às margens do Rio Cipó

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Em Presidente Juscelino, na Região Central de Minas Gerais, um casal transformou a paixão pelos animais em uma missão de vida. Gil Vale, de 49 anos, e Karine Pantusa, de 40, são os fundadores do Santuário da Onça-Pintada, um criatório conservacionista que abriga quase 150 animais resgatados por órgãos ambientais e incapazes de retornar à natureza. Instalado em uma área de 287 hectares, às margens do Rio Cipó, o local se tornou um refúgio para espécies vítimas de atropelamentos, maus-tratos, envenenamentos e do tráfico ilegal de animais silvestres.

Entre os moradores do santuário estão Jurema, uma coruja murucutu com as duas asas amputadas; Cleiton, um tamanduá-bandeira manco; Kiara, uma loba-guará com apenas três patas; e Pitica, uma filhote de anta órfã cuja mãe foi envenenada por agrotóxicos. Ao todo, 146 animais de 54 espécies vivem sob os cuidados do casal, que mantém o projeto com recursos próprios. “Não tiramos nenhum animal da natureza. Recebemos apenas aqueles que não têm mais como voltar para o habitat natural”, explica Gil, perito judicial apaixonado por fauna silvestre desde a infância.

O local, que funciona há cinco anos, foi construído com o objetivo de oferecer bem-estar e segurança aos animais e, sempre que possível, estimular a reprodução das espécies ameaçadas. Um dos principais exemplos desse trabalho é o casal de onças-pintadas Tarik e Odara, que se reproduziu no santuário e deu origem a dois filhotes, Perseu e Afrodite. A espécie, símbolo do projeto, é uma das mais ameaçadas do Cerrado, com uma população estimada em apenas 250 indivíduos no bioma. O nome “Santuário da Onça-Pintada” é uma homenagem a esse felino emblemático, considerado o carro-chefe do projeto.

Além das onças, o espaço abriga um tigre-siberiano idoso chamado Shere Kan, resgatado de um zoológico. O animal, que hoje pesa cerca de 300 quilos, recebe cuidados especiais, alimentação balanceada e vive em um recinto de 680 metros quadrados com cascata e parede de vidro. O santuário também acolhe antas, lobos-guará, tamanduás, araras e diversas aves feridas ou resgatadas do tráfico. Kiara, a loba-guará de três patas, vive com o companheiro Lobão e já teve um filhote que, segundo Gil, poderá ser reintroduzido na natureza.

A alimentação dos animais é um dos maiores desafios do santuário, que consome cerca de 80 quilos de verduras, legumes e carnes por semana, além de rações e suplementos. O custo mensal para manter o tigre, por exemplo, chega a R$ 9 mil. Para reduzir gastos e garantir sustentabilidade, o casal já plantou duas mil mudas de árvores nativas que servem de alimento para os animais.

O Santuário da Onça-Pintada integra o projeto Áreas de Soltura de Animais Silvestres (Asas), uma parceria entre o Instituto Estadual de Florestas (IEF) e o Ibama, que cadastra propriedades aptas para a soltura de animais reabilitados. Em breve, o local deve receber novos moradores: um bicho-preguiça que perdeu as mãos após um choque elétrico e dez jacarés resgatados do tráfico.

Para Gil e Karine, o santuário é mais que um abrigo. É uma segunda chance para animais que sofreram com a crueldade humana e agora encontram paz em meio ao Cerrado. “Aqui os animais são tratados com carinho e respeito. Nosso sonho é que o Santuário se torne um exemplo de conservação e amor à vida”, resume Karine.

Crédito da reportagem: Alessandra Mello

Crédito das fotos: Alexandre Guzanshe / EM / D.A Press

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