Menos de um mês após o fim do estado de calamidade pública no Brasil, indicadores da pandemia no país voltaram a subir e dão indícios de que uma quarta onda da pandemia possa estar a caminho, . A cobertura vacinal, porém, dá esperanças de que um eventual novo aumento de casos não seja acompanhado por igual alta de mortes, diferentemente dos momentos mais dramáticos da pandemia.
O biólogo Átila Iamarino, que ficou famoso desde o começo da pandemia por suas lives de análise sobre o cenário epidemiológico, , após o que ele chama de “lua de mel” da pandemia, o momento de baixa de infecções desde março. “A gente tem um vírus que muda, que pode escapar da imunidade e agora ele volta a infectar as pessoas. Mas, como temos uma imunidade prévia, não temos Covid com sintomas. Grande parte dos infectados agora terá sintomas mais leves, vai achar que está com uma gripe que vai durar uma semana ou duas”, explica, em sua live mais recente.
Os casos no Brasil voltaram a passar de uma média móvel de 18 mil nessa semana, apesar de os dados mais recentes, de cerca de 15 mil casos, demonstrarem estabilidade, enquanto a média de 113 mortes ao dia está em crescimento — ainda distante da média de mais de 300 óbitos registrada no início do ano. Em Minas Gerais, os casos em acompanhamento, ou seja, de pessoas infectadas neste momento e ainda não consideradas curadas, saltou de 63,3 mil para 94 mil pacientes em um mês.
A busca por testes de Covid-19 no laboratório Lustosa, por exemplo, aumentou 36% da primeira para a segunda semana de maio, e a positividade dos testes chegou a 19,1% nesse período, a maior desde o final de fevereiro, após períodos de março em que ela não passou sequer de 5%.
Professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR, Roberto Kraenkel avalia que há chance de estarmos assistindo a uma nova onda da pandemia neste momento, o que não quer dizer que haverá um volume tão expressivo de casos quanto o que foi registrado nas ondas anteriores, especialmente no pico da ômicron, no início de 2022. “Ainda estamos em um nível baixo, mas temos que ficar atentos se haverá subida consistente nas próximas semanas”, pontua.
Ele critica a vigilância epidemiológica no Brasil, onde não há controle sobre quantas pessoas testaram positivo nos autotestes, por exemplo, liberados para comercialização no final de janeiro. “O Brasil precisa ter uma vigilância reforçada. Estamos sempre viajando no escuro”, diz.
Sublinhagens da ômicron causam novas ondas ao redor do mundo
O governo da Argentina declarou oficialmente que o país entrou na quarta onda da pandemia, ao mesmo tempo em que a África do Sul e os EUA também enfrentam novo aumento de casos. Por trás da escalada, estão sublinhagens da variante ômicron, como a BA.4 e a BA.5, na África, e a BA.2, nos EUA. Não há evidências de que elas sejam capazes de escapar totalmente à imunidade oferecida pelas vacinas, mas já se sabe que são capazes de infectar mesmo quem teve contato com a ômicron anteriormente — a África do Sul já tinha sofrido um grande surto de ômicron há cerca de seis meses.
“Do ponto de vista global, os casos estão subindo de novo, então ainda existe uma pandemia em situação dinâmica. Isso pode não estar necessariamente acontecendo no Brasil neste momento, mas a situação está ativa globalmente e uma hora vem para cá. o Brasil não está fora do mundo e está dentro dessa dinâmica”, pontua o professor Roberto Kraenkel.
Nesse cenário, o infectologista Carlos Starling, membro do extinto comitê de enfrentamento à pandemia da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), defende que o uso de máscara em locais fechados seja retomado, mesmo sem obrigatoriedade. “Podemos e estamos vendo acontecer uma nova onda nos EUA e, por coincidência, é pela mesma variante que já identificamos em Belo Horizonte. Portanto, em ambientes fechados, o uso de máscara é mais do que uma atitude inteligente, é uma atitude consciente que deve ser adotada por todas as pessoas. Se será obrigatório o retorno ou não, não depende das pessoas, mas do poder público, mas é uma atitude extremamente coerente com aumento epidemiológico, que elas a utilizem”, diz.
O biólogo Átila Iamarino completa, em sua live mais recente: “Na falta de máscara e com as pessoas aglomeradas, todo mundo aglomerando, o que estava barrando o vírus era a imunidade das pessoas. Ela pode passar e diminuir com o tempo e o vírus pode evoluir o suficiente para escapar dela. As duas coisas estão acontecendo agora”.
fonte: O Tempo