Em tempos de conexões virtuais e estímulos constantes, o psiquiatra Augusto Cury cunhou o termo “mendigo emocional” para descrever pessoas que dependem da aprovação e da validação dos outros para se sentirem bem. A expressão, que ganhou destaque em uma de suas palestras online, define quem “precisa de muitos estímulos para sentir migalhas de prazer”.
Segundo especialistas, esse comportamento se tornou comum na sociedade moderna, marcada pelo excesso de informação e pela busca incessante por reconhecimento. Em vez de promover vínculos profundos, a hiperconectividade tem gerado relações superficiais e uma sensação crescente de vazio.
A psicóloga e psicanalista Vanessa Teixeira explica que o contato virtual molda as relações humanas. “Estamos conectados, mas as interações seguem as regras dos aplicativos. Plataformas como o Instagram priorizam a imagem e o imediatismo, e isso influencia a forma como nos relacionamos com o outro”, observa.
Esse ciclo de estímulos constantes também tem efeitos biológicos. A psicóloga Viviane Rogêdo destaca que o sistema dopaminérgico — responsável pela sensação de prazer — passa a trabalhar de forma acelerada. “Com o tempo, situações simples deixam de gerar satisfação. A pessoa precisa de cada vez mais estímulos para sentir prazer, o que gera desmotivação e até infelicidade”, alerta.
O uso excessivo das redes sociais reforça esse padrão. Cada curtida, comentário ou reação libera dopamina, criando um ciclo viciante de recompensa imediata. “No início, dez curtidas bastam. Depois, o cérebro quer cem. É o mesmo mecanismo de dependência observado em vícios químicos”, explica Viviane.
O fenômeno também afeta as relações familiares. Para Cury, pais que substituem afeto por presentes criam filhos emocionalmente carentes. “Devemos oferecer o que o dinheiro não compra: tempo, empatia e presença”, defende o psiquiatra.
Identificar o comportamento de “mendigo emocional” é essencial para retomar o equilíbrio. Rogêdo recomenda observar a própria relação com as redes: “Se você posta algo e fica verificando o tempo todo as reações, é sinal de desequilíbrio. O autoconhecimento ajuda a fortalecer a autoestima e a reduzir a dependência da validação externa.”
Para Vanessa Teixeira, recuperar o senso de comunidade é fundamental. “A ideia de que somos autossuficientes é ilusória. Precisamos de pertencimento. Quanto mais o discurso social valoriza o individualismo, mais sentimos fome de afeto”, resume.
Texto: Laura Maria – O Tempo
Foto: iStock


















