Dez anos após o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), ninguém foi condenado criminalmente pela tragédia que matou 19 pessoas, destruiu comunidades inteiras e contaminou o Rio Doce. O desastre, considerado o maior da mineração brasileira, ocorreu em 5 de novembro de 2015, quando 40 milhões de metros cúbicos de rejeitos da Samarco devastaram o distrito de Bento Rodrigues e seguiram até o Espírito Santo.
Apesar da gravidade do caso, o processo criminal segue sem conclusão. Em novembro de 2024, a Justiça Federal absolveu todos os réus, incluindo a Samarco, suas controladoras Vale e BHP, e técnicos responsáveis pela barragem. A juíza alegou que não foi possível individualizar as condutas que teriam causado o rompimento. O Ministério Público Federal recorreu da decisão, mas o recurso ainda não foi julgado.
Enquanto isso, parte dos crimes já prescreveu, o que reforça o sentimento de impunidade entre os atingidos. “A sociedade merece uma resposta. Justiça tardia não é justiça”, afirmou o procurador Eduardo Henrique Aguiar.
Acordo bilionário e lentidão na reparação
Em outubro de 2024, um novo acordo entre as mineradoras e o poder público destinou R$ 170 bilhões à reparação dos danos. O valor inclui investimentos em infraestrutura, saneamento e projetos para comunidades atingidas. Ainda assim, moradores relatam lentidão e desigualdade nos pagamentos. Segundo a Samarco, R$ 14 bilhões já foram pagos em indenizações e auxílios, mas muitos reassentamentos seguem inacabados.
Esperança em julgamento internacional
Na Inglaterra, um processo movido por mais de 620 mil atingidos contra a BHP pode resultar em uma indenização superior a R$ 260 bilhões. A decisão sobre a responsabilidade da empresa deve sair ainda neste ano.
Para os atingidos e movimentos sociais, a falta de punição e de reparação efetiva revela um cenário de impunidade e descaso. “A empresa sabia do risco e nada fez. A lama destruiu vidas, memórias e o futuro de comunidades inteiras”, afirmou Letícia Oliveira, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Uma década depois, a lama do Fundão segue viva — nas águas do Rio Doce e na memória de quem perdeu tudo.
📸 Foto: REUTERS/Ricardo Moraes
📰 Matéria: g1 Minas




















