Cigarros ilegais impulsionam criminalidade e colocam Minas Gerais entre os estados mais afetados

Por Dentro De Tudo:

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Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) revela um vínculo preocupante entre o mercado ilegal de cigarros e o avanço da criminalidade no Brasil. Segundo a pesquisa, cada ponto percentual de aumento na circulação de cigarros clandestinos está associado a 239 homicídios dolosos por ano, além de quase 900 novos registros de tráfico de drogas e cerca de 3 mil roubos de veículos. O levantamento estima que o comércio clandestino movimente R$ 10,2 bilhões anuais, quantia que abastece diretamente facções criminosas e fortalece sua atuação em diversos estados.

Em Minas Gerais, o impacto é significativo. O Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP) calcula que o mercado ilegal movimentou R$ 466 milhões em 2024, gerando uma perda de R$ 117 milhões em ICMS. Entre 2012 e 2024, o estado registrou 11 fábricas clandestinas desarticuladas, ficando atrás apenas de São Paulo, que contabilizou 22. O presidente do FNCP, Edson Vismona, afirma que o contrabando deixou de ser uma suspeita e passou a ser uma certeza quando se trata de financiar o crime organizado. Ele ressalta que a alta carga tributária do cigarro legal — acima de 80% — torna a versão clandestina lucrativa, barata e de baixo risco para facções.

A produção ilegal dentro do país também tem crescido, com fábricas instaladas próximas aos centros consumidores e operando sem qualquer controle, muitas vezes com trabalho análogo à escravidão. Minas Gerais, pela sua posição estratégica entre Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, tornou-se um corredor relevante para esse tipo de atividade.

Além da arrecadação que alimenta o crime, o cigarro clandestino também funciona como instrumento de domínio territorial. Vismona explica que grupos criminosos usam a venda exclusiva desses produtos para consolidar presença em bairros e comunidades, criando monopólios locais. O especialista em segurança pública Jorge Tassi acrescenta que, embora o cigarro não seja o estopim principal de guerras entre facções, ele se torna peça-chave na estrutura financeira desses grupos e porta de entrada para outras atividades ilegais.

O estudo da FGV analisou dados do Ipec, Sinesp, Receita Federal e Tesouro Nacional entre 2019 e 2024. O pesquisador Renan Peri explica que, embora a pesquisa não estabeleça causa e efeito, ela confirma que a ilegalidade e os índices de criminalidade crescem lado a lado. Para ele, o cigarro ilegal não é apenas uma ameaça econômica, mas um problema profundo de segurança pública, com efeitos diretos no cotidiano das cidades.

Foto: Pixabay / Reprodução

Fonte: O Tempo — 01/12/2025

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