Minas Gerais apreende mais armas que os demais estados do Sudeste, e armamento moderno avança no crime organizado

Por Dentro De Tudo:

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Minas Gerais lidera as apreensões de armas ilegais no Sudeste, superando estados que concentram grandes facções criminosas, como São Paulo e Rio de Janeiro. O levantamento Arsenal do Crime, do Instituto Sou da Paz, divulgado nesta segunda-feira (8), mostra que o perfil do armamento confiscado no estado tem se transformado, com aumento de pistolas semiautomáticas, armas novas e calibres mais potentes. Para os pesquisadores, essa mudança pode estar ligada à flexibilização das regras de controle de armas e ao desvio de armamento do mercado legal para organizações criminosas.

Entre 2018 e 2023, Minas Gerais registrou 119.212 armas apreendidas pelas forças estaduais e federais — número 74% maior que o de São Paulo, que somou 68.204, e bem acima dos 45.897 casos do Rio de Janeiro. Embora historicamente o estado acumulasse grande volume de espingardas e armas de fabricação artesanal, essa tendência vem caindo. Desde 2022, pistolas passaram a dominar as apreensões, especialmente modelos semiautomáticos, que oferecem maior capacidade de disparos.

Um dos destaques é o crescimento das pistolas calibre 9×19 mm, responsáveis por 45,5% dos calibres confiscados em 2023. O armamento foi liberado para civis em 2019, voltou a ser restrito quatro anos depois, mas se manteve como o mais vendido no país — e também um dos mais desviados para o crime. Por seu alto poder de perfuração e alcance, especialistas classificam o calibre como especialmente letal.

Segundo o Instituto Sou da Paz, o aumento de armas novas apreendidas — de cerca de 83 para 880 casos ao ano — pode indicar desvio direto de fábricas ou lojas. A análise também associa o fenômeno à expansão de facções no estado: entre 2019 e 2024, o número de integrantes do PCC e CV nos presídios mineiros cresceu 55%, passando de 1.900 para 2.950.

Pesquisadores defendem a criação de uma delegacia especializada em armas em Minas, para rastrear armamentos, identificar possíveis laboratórios clandestinos e investigar desvios do mercado legal. A medida já apresenta resultados em outros estados, como o Espírito Santo.

Apesar da liderança nas apreensões, Minas viu queda na atuação das polícias a partir de 2020. A média de armas retidas por mês caiu de 1.887 para 1.270 — redução de 32%. A Polícia Federal, porém, aumentou sua atividade e quase triplicou suas apreensões em 2023. O instituto avalia que o declínio pode estar relacionado a mudanças de prioridade na segurança pública estadual.

O estado também registrou aumento nos homicídios dolosos: segundo o Mapa da Segurança Pública, as mortes cresceram 7,38% em 2024, totalizando 2.853 casos. A Secretaria de Justiça e Segurança Pública mineira foi procurada, mas ainda não respondeu.

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