Pesquisadores identificaram o mecanismo que dá início a um dos processos mais destrutivos do câncer, capaz de acelerar a evolução dos tumores e dificultar o tratamento. Um estudo publicado na revista científica Science aponta que uma enzima específica é responsável por provocar a cromotripsia — fenômeno em que cromossomos se quebram de forma abrupta e são reorganizados de maneira desordenada dentro da célula.
Diferentemente da progressão tradicional do câncer, em que mutações se acumulam lentamente, a cromotripsia provoca um verdadeiro “salto evolutivo” no tumor. Em um único evento, dezenas ou até centenas de fragmentos de DNA são rearranjados, criando combinações genéticas que favorecem o crescimento acelerado da doença e a resistência a terapias.
Segundo o estudo, esse processo ocorre quando erros na divisão celular fazem com que cromossomos fiquem presos em estruturas frágeis chamadas micronúcleos. Quando essas estruturas se rompem, o material genético fica exposto e vulnerável. A novidade da pesquisa foi identificar qual enzima atua nesse momento crítico: a N4BP2.
Experimentos mostraram que essa enzima é capaz de entrar nos micronúcleos e fragmentar intensamente os cromossomos. Quando os pesquisadores bloquearam sua ação em células cancerígenas, o número de quebras genéticas caiu drasticamente. Já a ativação da enzima em células saudáveis levou à fragmentação do DNA, confirmando seu papel central no processo.
A análise de milhares de genomas tumorais revelou que altos níveis da N4BP2 estão associados a tumores mais agressivos, com grande instabilidade genética e presença elevada de DNA extracromossômico — estruturas que carregam genes ligados à proliferação do câncer e à resistência a medicamentos.
A descoberta abre novas possibilidades para o tratamento oncológico. Em vez de apenas combater mutações já estabelecidas, futuras terapias podem buscar bloquear esse “gatilho” inicial, reduzindo a capacidade do câncer de se adaptar e evoluir rapidamente.
Os pesquisadores destacam que compreender como o caos genético começa pode mudar a abordagem contra alguns dos tipos mais difíceis de câncer, oferecendo caminhos para tornar os tratamentos mais eficazes no longo prazo.
Fonte: g1
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