Por que o equipamento esportivo feminino não é uma questão de estética, mas de biomecânica

Por Dentro De Tudo:

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Por décadas, o mercado de equipamentos esportivos tratou o público feminino como uma simples variação do masculino. A estratégia dominante, conhecida pejorativamente como “pink it and shrink it” (pinte de rosa e diminua o tamanho), partia da premissa de que bastava ajustar a cor e a modelagem de um produto masculino para atender às mulheres. 

Esta abordagem, hoje obsoleta, ignorava que a anatomia e a biomecânica femininas possuem diferenças estruturais que exigem uma engenharia de produto completamente distinta.

Para a atleta amadora ou semi-profissional, que possui um conhecimento aprofundado do seu corpo e do seu esporte, a escolha do equipamento correto não é uma preferência estética; é uma decisão técnica que impacta diretamente a performance, o conforto e, crucialmente, a prevenção de lesões. 

A fundação biomecânica: o “Ângulo Q” e a engenharia do calçado

A diferença mais crítica entre a engenharia de calçados masculinos e femininos reside na estrutura pélvica. Biologicamente, as mulheres possuem uma pélvis mais larga para facilitar o parto. Isso cria um “Ângulo Q” (Ângulo do Quadríceps) — o ângulo formado entre o quadril, a patela e a tíbia — significativamente maior do que o masculino.

Um Ângulo Q maior aumenta a tendência à pronação excessiva (a rotação do pé para dentro após o impacto) e coloca um estresse torsional muito maior sobre os ligamentos do joelho, especialmente o Ligamento Cruzado Anterior (LCA) — lesão que mulheres têm uma incidência de 4 a 6 vezes maior em esportes de pivô (como futsal ou vôlei) do que os homens.

Um calçado feminino de alta performance, portanto, não é apenas mais estreito, sendo projetado para combater esse estresse. A entressola possui um suporte medial (anti-pronação) mais robusto e o design da sola (outsole) é otimizado com sulcos de flexão que guiam o pé para uma passada mais neutra, reduzindo o torque rotacional no joelho.

Por que o amortecimento “unissex” falha?

Outra diferença fundamental é a densidade da espuma da entressola (geralmente EVA ou TPU). A performance do amortecimento depende da capacidade do material de ser comprimido e retornar energia. Em média, as mulheres possuem menor massa corporal e menor densidade muscular que os homens, mesmo em níveis de elite.

Se uma mulher utiliza um calçado masculino (mesmo no tamanho correto), ela pode não ter a massa necessária para comprimir adequadamente a espuma, que foi calibrada para um atleta mais pesado. 

O resultado é um calçado que parece “duro” ou “morto”, que não oferece o retorno de energia prometido e falha em absorver o impacto de forma eficaz, levando a um maior risco de lesões por estresse, como a fascite plantar ou fraturas por estresse na tíbia (canelite). 

Calçados femininos de elite são projetados com uma espuma de densidade menor, calibrada especificamente para a biomecânica e o peso médio feminino, garantindo a resposta e a proteção corretas.

Engenharia do vestuário e termorregulação

As diferenças no vestuário vão muito além da necessidade óbvia do top esportivo de alta sustentação. A fisiologia da termorregulação feminina é distinta. Embora as mulheres possuam, em média, menos glândulas sudoríparas, estudos mostram que seus corpos são mais eficientes na refrigeração, começando a suar em temperaturas corporais mais baixas que os homens para evitar o superaquecimento.

Isso exige uma engenharia de tecidos e ventilação diferente. Roupas técnicas femininas de alta performance são projetadas com zonas de ventilação (painéis de mesh) localizadas em áreas de calor distintas das masculinas. 

Além disso, o corte é anatômico: o torso feminino é, em média, mais curto, e a peça precisa acomodar a curvatura do quadril e do busto. Uma camiseta masculina “unissex” usada por uma mulher restringe o movimento no peito e sobra tecido na cintura, causando atrito e dificultando a evaporação do suor.

A ergonomia dos acessórios: além do ajuste básico

A diferença de engenharia se estende aos acessórios, onde o design “unissex” frequentemente falha em ergonomia. O exemplo mais claro são as mochilas de hidratação ou de trilha. 

Um modelo unissex (leia-se: masculino) possui alças retas que exercem pressão direta e desconfortável sobre o busto. Modelos femininos de alta tecnologia possuem alças em formato de “S”, que contornam a anatomia do peito, e um comprimento de torso mais curto.

Essa lógica se aplica a luvas (a proporção entre o comprimento dos dedos e a largura da palma é diferente) e até mesmo a equipamentos de proteção. O mercado evoluiu para reconhecer que a performance depende do ajuste perfeito. A busca por acessórios, calçados e roupas esportivas femininas de marcas com investimento comprovado em pesquisa e desenvolvimento, como a Joma, é uma decisão de performance. 

A procedência de um equipamento projetado especificamente para a anatomia feminina garante que a atleta esteja protegida e apta a desempenhar seu máximo potencial.

Consequências do uso de um equipamento indevido

O uso de equipamento masculino ou unissex por uma atleta feminina não é uma questão de estilo, mas de risco. Um calçado com amortecimento muito denso aumenta o impacto; um calçado sem suporte medial adequado agrava a pronação e o risco de lesão no LCA. Um vestuário mal ajustado causa assaduras (atrito) e prejudica a termorregulação, levando à fadiga precoce.

O atleta amador ou semi-profissional experiente entende que seu corpo é a sua ferramenta principal, e o equipamento é o que a protege e potencializa. A indústria finalmente reconheceu que as atletas femininas não são um nicho de mercado, mas metade do universo esportivo, com demandas biomecânicas únicas e complexas.

Investir em tecnologia esportiva desenhada para o corpo feminino não é um luxo, mas sim uma decisão técnica mais inteligente para garantir o desempenho, o conforto e a longevidade no esporte.

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