Dois anos antes de sua morte, em 2017, o designer americano Gilbert Baker concedeu uma entrevista ao Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMA, após a instituição incorporar à sua coleção o trabalho mais célebre assinado por ele: a bandeira em forma de arco-íris, até hoje identificada como referência LGBTQIAP+. “Precisávamos ter algo que nos encaixasse em um símbolo, o de que somos pessoas, uma tribo”, disse, à época, sobre a inspiração. “E as bandeiras são sobre proclamar poder. Logo, são muito apropriadas.”
O design jamais foi registrado por ele, numa atitude que parecia prever como aquelas linhas coloridas tinham vida própria. Criado em 1978 para o Dia de Liberdade Gay de São Francisco, na Califórnia, o desenho sofreu alterações já nos anos seguintes, quando passou de oito cores para seis. Mais recentemente, outros grupos começaram a sugerir uma nova versão, que proporcionasse ainda mais representatividade. Isso seria feito a partir da inclusão de listras, cores e símbolos que fizessem menções diretas a populações como pessoas transexuais, intersexo e negras. O modelo circula por aí, mas não pegou como o primeiro. Enquanto isso, conforme avançam os debates de gênero e identidade, diferentes grupos minoritários passaram a criar suas próprias bandeiras (listamos algumas ao longo das páginas), num esforço para aumentar a identificação e a representatividade.
“As bandeiras, assim como as letras que foram incorporadas à sigla nos últimos anos, criam um senso de comunidade. As pessoas conseguem se conectar, refletir e fazer reivindicações sobre suas próprias necessidades”, afirma o publicitário e produtor de conteúdo Cup, de 25 anos. Dono do perfil @apenascup no Instagram, no qual é seguido por 17 mil pessoas, ele (ou ela, já que se identifica como agênero, além de assexual e pansexual) se especializou em destrinchar essa temática com vídeos curtos e didáticos.
Embora toda essa multiplicidade parta de um movimento espontâneo, do ponto de vista do design, é possível notar a presença de um padrão entre boa parte das novas criações. A observação é feita pelo designer e professor da PUC-Rio Joaquim Redig, que estuda a simbologia de bandeiras há mais de 20 anos. “A predileção pelas linhas horizontais se revela estratégica, a partir do momento em que passa a ideia de uma caminhada conjunta. É como se uma reforçasse a outra”, analisa.
Fonte: O Globo.