A angústia da família de Bárbara Vitória Lopes, de 10 anos, desaparecida desde o último domingo (31/07), terminou de forma trágica na manhã dessa terça-feira (2/8). O corpo da menina foi encontrado por uma moradora em um campo de futebol no vizinho Bairro Pedra Branca, em Ribeirão das Neves, na Grande Belo Horizonte, a poucos quarteirões do local onde ela morava, com sinais de violência e estrangulamento, e indícios que sugerem abuso sexual. O crime deixou parentes em choque e revoltou a comunidade onde a criança morava, que se mobilizou imediatamente para cobrar apuração e confortar parentes. A polícia investiga a autoria do assassinato e já tem um suspeito identificado, mas ninguém foi preso.
Bárbara não voltou para casa após ter ido à padaria comprar pão a pedido dos pais. Segundo o boletim de ocorrência da Polícia Militar, o caminho era conhecido da criança e é percorrido, em média, em 5 minutos desde a casa da família.
Preocupados pela demora de Bárbara, os pais resolveram procurar a polícia. Policiais foram até a padaria e conversaram com funcionários do estabelecimento, que confirmaram que a menina havia comprado pão, mas disseram que saiu da loja logo depois. Eles não souberam responder para onde ela havia ido.
A casa de Bárbara fica no meio do caminho entre a padaria e o campo do Pedra Branca. Os endereços, na divisa entre BH e Ribeirão das Neves, são tão próximos que, em menos de 20 minutos, é possível fazer o deslocamento entre os três pontos a pé (veja mapa). Câmeras de segurança instaladas no trajeto registraram o momento em que Bárbara desce uma rua, correndo, pelo asfalto, e também mostraram quando dois homens correm na mesma direção em que a menina estava.
Corpo com sinais de violência e asfixia
O corpo de Bárbara foi encontrado com uma camisa do Atlético, a mesma que ela usava quando desapareceu, mas sem as roupas de baixo, além de sinais de violência e enforcamento. “A PM foi acionada por uma transeunte que informou ter localizado o corpo de uma menina. E desde domingo acompanhamos a ocorrência de desaparecimento”, informou o major Wanderson Júnior, que acompanhou a ocorrência no local.
Segundo o militar, a região onde a criança foi encontrada é considerada “muito bem policiada e com patrulha constante”. “É um caso que não é comum para a região”, afirmou. A perícia esteve no local e o corpo foi retirado pelo rabecão por volta de 11h50, momento em que os moradores gritavam por “justiça”.
Suspeito foi liberado depois de ser interrogado
Na segunda-feira (1º/8), um suspeito do envolvimento no desaparecimento da menina foi ouvido pela polícia. Muito abalada depois que o corpo da filha foi encontrado, a mãe de Bárbara confirmou à reportagem do Estado de Minas que foi levada até a casa do principal suspeito do crime. Lá ela identificou um saco de pães na quantidade que pediu que a filha comprasse antes de desaparecer.
Segundo a PM, o material foi apreendido. Militares informaram ainda que imagens das câmeras foram mostradas ao suspeito. Nelas, ele apareceria fazendo um sinal para a menina, que corre em seguida. Após vê-las, o homem negou que fosse ele no registro e disse que nem conhecia Bárbara. Porém, quando os policiais mostraram as imagens para o filho do suspeito, ele teria dito: “Pai, me desculpe. Eu te amo, mas é o senhor na imagem”.
Mesmo diante das palavras do filho, o homem continuou negando que conhecesse a menina. Os policiais então disseram que a mãe de Bárbara contou que o homem teria ido à casa da família fazer um conserto na energia elétrica. Só então, o suspeito mudou a versão e confirmou que era ele nas imagens, que conhecia a menina, mas disse que não havia feito nada a ela.
Militares o encaminharam à delegacia, onde as explicações seriam dadas ao delegado. Ele foi ouvido e liberado. A Polícia Civil foi procurada para saber quais as justificativas para o suspeito não ter sido detido, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
O delegado e porta-voz da Polícia Civil, Saulo Castro, informou que uma equipe de policiais esteve no local em que o corpo foi encontrado, onde realizou levantamentos investigativos. “A Polícia Civil esclarece que a identificação oficial do corpo depende de exames periciais, cujos resultados serão divulgados à família da vítima e à imprensa tão logo sejam finalizados”, concluiu.
Legislação
O criminalista Matheus Falivene, doutor em Direito Penal pela USP, explica que, pela legislação brasileira, a polícia não poderia manter preso o suspeito de envolvimento na morte de Bárbara. Segundo o especialista, o homem só poderia ser preso em flagrante ou se houvesse um mandado de prisão expedido contra ele. “Fora do caso de flagrante, uma pessoa só pode ser presa por uma ordem fundamentada de um juiz, em hipótese de prisão temporária ou preventiva”, afirma.
Falivene diz que, apesar de não saber a motivação para a liberação do suspeito, provavelmente não se trata de caso de prisão em flagrante. “Ele foi conduzido à delegacia e, como não havia aberto mandado de prisão contra ele, o delegado não tem como mantê-lo. Caso contrário, seria uma prisão ilegal. A autoridade é obrigada a colocá-lo em liberdade até que o juiz eventualmente decrete prisão temporária ou preventiva.” O criminalista lembra ainda que o suspeito poderia também responder o processo em liberdade.
O criminalista destaca que como a prisão é uma medida considerada grave, para pedi-la é preciso ter um indício forte de autoria do crime. “Não sabemos os elementos que o delegado tinha até o momento.”
Perplexidade entre vizinhos
Entre os vizinhos que conheciam a menina encontrada morta ontem, a opinião era unânime: Bárbara era carinhosa e sorridente. “Ela tinha a vida toda pela frente. Era alegre. No dia mesmo em que foi comprar o pão, estava toda sorridente. Então a população está indignada”, conta Paulo Pereira, que mora próximo à família.
Ele e outras pessoas estiveram no local onde o corpo da garota foi encontrado. Em meio a gritos de justiça e clima de muita revolta, o corpo de Bárbara foi levado pelo rabecão ao Instituto Médico-Legal. “Acho que a polícia tem as pistas e que esse criminoso vai aparecer”, concluiu, informado que o principal suspeito é conhecido na região.
Bárbara estudava na Escola Municipal Armando Ziller, bem próximo à casa da família. Segundo uma colega, a menina era muito querida entre os alunos. Ela morava com a mãe, Luciene Vitalino, o pai, Rogério Lopes, um irmão mais novo de 1 ano, uma irmã de 3 e um mais velho, de 15 anos. Segundo vizinhos, era ela quem ajudava a mãe a tomar conta dos mais novos.
Ainda ontem, no fim da tarde, moradores organizaram uma manifestação para homenagear Bárbara e cobrar justiça pela morte. O ato ocorreu no campo de futebol onde o corpo foi encontrado. No local, centenas de moradores se reuniram com balões brancos cobrando justiça e fazendo orações. A mãe de Bárbara compareceu ao local amparada pelo filho de 15 anos. Sentada em uma cadeira no centro da manifestação, ela recebeu abraços e palavras de conforto, mas chegou a passar mal durante o movimento.