“Dar um google”, a ação que se tornou imediata para responder a maioria das dúvidas, ganhou um papel ainda mais relevante com o mar de informações que acompanhou a chegada da Covid-19, os decretos restritivos, os sintomas da nova doença e, mais para frente, o início da vacinação. Porém, a procura pelo vírus no Brasil, que chegou ao ápice com a explosão de casos pela variante Ômicron, nunca esteve em patamares tão baixos desde 2020. O mesmo acontece com o interesse pelas vacinas, que também deixou de ser alvo dos internautas, segundo levantamento do GLOBO com dados da plataforma Google Trends.
Mas essa mudança de postura em relação ao novo coronavírus de fato representa um cenário otimista para o futuro da pandemia? Especialistas ouvidos pelo GLOBO explicam que de fato o país vive uma situação bem mais tranquila em relação à Covid-19, com as médias móveis de novos casos e óbitos em estabilidade em patamares mais baixos da doença. No entanto, ressaltam que é importante ampliar a cobertura vacinal com a dose de reforço, que hoje contempla apenas 47% da população segundo dados do consórcio de veículos de imprensa.
— Estamos numa situação bem mais tranquila, principalmente pela menor mortalidade da doença, que diminuiu bastante depois da onda Ômicron e das vacinas. Ainda é considerada alta, mas hoje é principalmente em pessoas muito vulneráveis e não vacinadas, então diminui essa preocupação da população geral. As vacinas hoje podem não proteger tanto contra a infecção, mas protegem contra os desfechos graves. Quantas pessoas foram salvas pelas vacinas? Então é muito importante estar com o esquema completo — avalia o sanitarista pesquisador da Fiocruz, Christovam Barcellos.
O alto risco para complicações graves após contaminação pelo vírus Sars-CoV-2 de fato diminuiu consideravelmente. Em abril de 2021, quando o Brasil enfrentava a pior onda da Covid-19 e a vacinação avançava a passos lentos, chegou a ser registrada uma média móvel de 3.125 mortes por dia. É um número cerca de 94% em relação ao índice de hoje, que o país registra uma média por volta de 200 óbitos diários.
— Quem viu a catástrofe que aconteceu com a doença no país, e observa o momento em que estamos hoje, percebe claramente que o número de pessoas sendo hospitalizadas e morrendo é muito menor. A manifestação da doença mudou muito, devido às vacinas e ao alto número de pessoas que foram infectadas. Então as pessoas estão normalizando o convívio com o vírus, nesta semana mesmo a Anvisa definiu que não é mais obrigatório o uso de máscaras em aviões. A expectativa agora é que não surja nada muito diferente em termos de variantes e que os imunizantes continuem oferecendo essa alta proteção contra doença grave — pontua o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, em Curitiba
O percentual de declínio das mortes no país é semelhante ao das pesquisas online sobre a doença. Segundo o monitoramento do Google Trends, a procura pelo termo ‘covid’ atingiu o ápice em janeiro deste ano, quando registrou 100 pontos (o máximo da plataforma). Mas, até a segunda semana de agosto, as buscas caíram também 94%, chegando a apenas 6 pontos. O indicador já havia chegado a períodos mais baixos, como em novembro do ano passado, antes da variante Ômicron, mas não tanto quanto agora.
— Essa curva da busca pela Covid no Google é muito parecida com a da incidência da doença, os picos correspondendo às ondas da infecção, então é uma postura reativa, quando aumenta o perigo, as pessoas procuram mais informação na internet — diz Barcellos.
Em relação à campanha de imunização, a busca pelo termo ‘vacina covid’ teve altas durante o ano de 2021 em janeiro, quando a primeira dose da CoronaVac foi aplicada na enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo, e em junho, quando novas remessas alavancaram o ritmo de vacinação e diversos estados passaram a adotar o calendário por faixas etárias.
Mas chegou ao pico também em janeiro deste ano, quando os casos cresciam pela variante Ômicron e a orientação sobre a terceira dose era ampliada a todos os adultos. Porém, de lá para cá, a queda chega a 97%, de acordo com a plataforma do Google, e atinge o índice mais baixo de toda a pandemia, com apenas 3 pontos.
— Há também outros fatos do dia a dia que ocupam os espaços, como o período eleitoral aqui no Brasil e o aparecimento da monkeypox, fatores que acabam contribuindo para a perda do interesse em relação à Covid — pontua a infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi.
Fonte: O Globo.