Enquanto grande parte dos pesquisadores está trabalhando no desenvolvimento de uma vacina ou de um remédio para a Covid-19, membros do Centro de Biologia Gastrointestinal do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG estão em busca de soluções para as comorbidades, que aumentam consideravelmente o risco de morte pelo coronavírus.
A pesquisa tem o foco no tratamento da esteatose hepática, que é a famosa gordura no fígado, uma comorbidade presente em 33% da população mundial, segundo o professor Gustavo Menezes, que está a frente do laboratório.
Há uma semana, os pesquisadores receberam uma verba de R$ 400 mil para a pesquisa que realiza testes em camundongos com um medicamento que, em três dias de uso, reduz drasticamente a gordura no fígado. A redução deixaria o animal, que antes poderia ter complicações se fosse infectado pelo coronavírus, com os mesmos riscos de morte de um camundongo saudável.
Segundo o professor Gustavo Menezes, testes já comprovaram que camundongos gordos, com excesso de gordura no fígado, que receberam o medicamento tiveram a mortalidade reduzida em relação a camundongos magros, no caso de infeções bacterianas.
A expectativa é que, também no caso do coronavírus, os animais tenham a comorbidade hepática reduzida para o mesmo risco de camundongos saudáveis, que é baixíssimo, afirma Menezes.
Se os testes forem bem-sucedidos, essa será uma boa indicação de que o medicamento agiria da mesma forma em seres humanos, já que há grande semelhança entre as duas espécies. “Temos 98% de homologia com o camundongo. Muitas das coisas que acontecem no camundongo acontecem muito parecido com a gente. Não é o perfeito, mas é o modelo ideal para se estudar em grande escala”, disse o professor.
Coronavírus de camundongo
Para fazer a pesquisa, os estudiosos tiveram que criar um coronavírus de camundongo, porque ele não se infecta pelo coronavírus humano. Isso porque os vírus são muito específicos, infectam determinadas espécies e outras não.
O camundongo só se infecta com o Sars-CoV-2 humano se o próprio camundongo for modificado, ou seja, quando os pesquisadores fazem com que os animais passem a expressar proteínas humanas. Esse tipo de camundongo é vendido já modificado. Mas não serão esses os camundongos utilizados na pesquisa da UFMG.