A prevenção contra a meningite C será ampliada em Minas Gerais a partir desta quinta-feira (3) quando começam a ser disponibilizadas vacinas para adolescentes e adultos de 16 a 30 anos, trabalhadores da saúde, trabalhadores da educação técnica e superior e universitários. A ampliação do público-alvo para a vacinação tem o intuito de conter a disseminação da doença que cresceu neste ano e que pode deixar sequelas e até levar à morte.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) explicou que a definição desse público-alvo foi baseada na ocorrência dos casos de meningite observados pelo número de notificações nos últimos anos. Além do fato das pessoas com mais de 30 anos de idade não terem sido imunizadas com a vacina Meningocócica C quando criança, já que a aplicação em Minas Gerais começou em 2009.
“A ampliação da vacinação para essa faixa etária é bem importante. A gente pega uma faixa que não recebeu a vacina contra a meningite C quando era criança. A tentativa é de aumentar a cobertura vacinal que, por sinal, desde 2017 tem ficado muito baixa, em torno de 75% da população e a meta é de 95%. Então ampliando para essa faixa etária de pessoas que ainda não foram vacinadas, a expectativa é a gente conseguir aumentar a cobertura vacinal e diminuir a circulação da doença”, considera o infectologista do Hospital Vila da Serra Cristiano Galvão de Melo sobre a ampliação da imunização.
A primeira remessa de imunizantes do Estado vai contar com 587.100 doses que serão distribuídas para todas as regiões de Minas. Somente em Belo Horizonte serão 90.700 doses. O público que faz parte da ampliação da vacinação pode se vacinar nos postos de saúde da sua cidade. “Os municípios têm autonomia para organizarem as estratégias de vacinação, conforme a realidade dos seus territórios”, informa a Secretária de Estado de Saúde (SES-MG).
Ainda segundo a secretaria, a vacinação vai até fevereiro do ano que vem. “Inicialmente, contempla apenas esse grupo pois está condicionada à disponibilidade da vacina para sua execução. O objetivo da estratégia é ampliar a cobertura vacinal contra a meningite no Estado. O impacto dessa ação promoverá proteção a toda a população, inclusive aos que não a receberem neste momento”, destaca a SES-MG
O universitário Diego Henrique Lopes, de 22 anos, já está de olho no calendário. “A gente sabe que a vacina pode salvar vidas. Foi por meio dela que muitas doenças deixaram de circular. Antigamente a gente via as pessoas com sequelas ou até morrendo por doenças que hoje já não não temos tantas mortes, já que a gente toma as vacinas quando criança. Toda imunização que tiver eu vou logo fazer parte. A prevenção é importante demais”, considera.
O pequeno João Marcos Santiago da Silva, de 5 anos, teve meningite quando tinha apenas dois meses, no ano de 2011, e até hoje ele carrega as sequelas da doença, sendo que ficou sem parte de uma das pernas e se tornou deficiente físico. “Pais de primeira viagem, eu e meu esposo, não tínhamos noção do que a doença poderia causar e muito menos o quão avassaladora ela seria, tanto na saúde do nosso filho quanto em nossos sonhos e projetos futuros!Foram mais de 100 dias na UTI lutando pela vida! João chegou a ter 1% de chance de sobreviver e viveu! Voltou para casa com traqueostomia, amputado transtibial da perna esquerda, metade e sola do pé direito, sem oito falanges distais das mãozinhas e com uma lesão no lóbulo frontal direito”, lembra Suelen Caroline Santiago Rosalino, mãe do João Marcos e presidente da Associação Brasileira de Combate à Meningite (ABM).
Com todas as dificuldades que passou com o filho, ela orienta que os pais não deixem de levar os filhos para vacinar. “Como mãe, sei que as picadinhas são realmente de amor! Que o choro ali é momentâneo, vai passar, mas que a falta destas vacinas podem deixar sequelas eternas e até mesmo levar à morte. Não devemos ter medo de levar nossos filhos para vacinar, mas sim de viver dias terríveis como vivemos e carregar sequelas tão agressivas que eu e muitos outros sobreviventes e familiares lidam todos os dias. Creio, firmemente, que a vacinação pode salvar vidas, não só a nossa, como também a de quem amamos. A vacinação é um direito de todos, mas precisamos nos apropriar deste direito”, destaca.
Para os bebês a vacinação deve começar com seis semanas de idade. O infectologista do Hospital Vila da Serra ressalta que é muito importante começar a vacinar os bebês nesta idade, já que as crianças têm mais chances de contrair a doença. “Na primeira infância as crianças são as mais atingidas principalmente pela meningite bacteriana por estarem com o sistema imune em formação. Tem contato em escola, aquele contato mais próximo de secreções nasais e orais, não fazem a higiene adequada das mãos. Então é o grupo com maior incidência de meningite”, explica o infectologista.
A cobertura vacinal contra a meningite em Minas em 2022 para crianças menores de um ano está em 74,06%, já para crianças de um ano está em 75,51%, segundo a Secretaria de Estado de Saúde. Para os adolescentes com idades entre 11 e 14 anos, a cobertura vacinal acumulada da imunização contra a meningite entre 2017 a setembro de 2022 é de 67,74%. A meta preconizada pelo Ministério da Saúde é que a cobertura fosse de 95%.
As notícias falsas sobre a vacinação são uma das agravantes para a baixa cobertura. “Desde que a vacina contra a meningite C foi colocada no calendário tivemos uma diminuição de três ou quatros vezes dos óbitos anuais. Então são vacinas que funcionam altamente eficazes. Estão no nosso meio há muito tempo sem sinais de efeitos adversos ou complicações secundárias à vacinação. Então o alerta para os pais é manter a carteira de vacinação dos filhos em dia, pois é uma coisa simples de se fazer e que pode evitar doenças que deixam sequelas graves e podem levar até a morte”, complementa o especialista.
A baixa imunização afeta diretamente no aumento de casos da doença. Em Minas, até junho deste ano foram registrados 465 casos de meningite. O número já é maior que todo o ano de 2021, quando foram 459 pessoas com a doença. Além disso, até junho deste ano foram 71 óbitos por meningite, muito mais que no ano passado, quando foram registradas 51 mortes. O que chama a atenção nos números da doença registrados neste ano é que 28 mortes foram causadas por tipos de meningite pneumocócica e meningocócica, que podem ser evitadas com o simples ato de se vacinar gratuitamente nos postos de saúde.
Saiba mais sobre a vacinação
Quem já podia se vacinar contra a meningite?
Bebês de 6 semanas até os 5 anos de idade. Nas crianças de até 6 meses são necessárias 3 doses, com reforço após 12 meses.
A vacina também passou a ser ofertada temporariamente para adolescentes não vacinados de 11 a 14 anos.
Para quem a vacinação será ampliada?
Para pessoas de 16 a 30 anos, trabalhadores da saúde, trabalhadores da educação técnica e superior e universitários poderão se vacinar contra a doença.
Onde as pessoas podem se vacinar?
As vacinas estão disponíveis em todos os postos de saúde do Estado, sendo que os municípios têm autonomia para organizarem as estratégias de vacinação, conforme a realidade dos seus territórios.
Saiba o que diz o Ministério da Saúde sobre a Meningite
O que é meningite?
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica. Casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. A ocorrência das meningites bacterianas é mais comum no outono-inverno e das virais na primavera-verão. O sexo masculino também é o mais acometido pela doença.
O que causa a meningite?
Pode ser causada por bactérias, vírus, fungos e parasitas. As meningites virais e bacterianas são as de maior importância para a saúde pública, considerando a magnitude de sua ocorrência e o potencial de produzir surtos. Apesar de ser habitualmente causada por microrganismos, a meningite também pode ter origem em processos inflamatórios, como câncer (metástases para meninges), lúpus, reação a algumas drogas, traumatismo craniano e cirurgias cerebrais.
Como a meningite é transmitida?
Em geral, a transmissão é de pessoa para pessoa, através das vias respiratórias, por gotículas e secreções do nariz e da garganta. Também ocorre a transmissão fecal-oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados e contato com fezes.
Quais são os sintomas da meningite?
A meningite é uma síndrome na qual, em geral, o quadro clínico é grave, por isso no momento em que achar que você ou alguém pode estar com sintomas de meningite deve procurar atendimento médico o mais rápido possível. Um médico pode determinar se você tem a doença, o tipo de meningite e o melhor tratamento.
Sintomas de meningite bacteriana
A meningite bacteriana é geralmente mais grave e os sintomas incluem febre, dor de cabeça e rigidez de nuca. Muitas vezes há outros sintomas, como: mal-estar, náusea, vômito, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz), status mental alterado (confusão). Com o passar do tempo, alguns sintomas mais graves de meningite bacteriana podem aparecer, como: convulsões, delírio, tremores e coma.
Em recém-nascidos e bebês, alguns dos sintomas descritos acima podem estar ausentes ou difíceis de serem percebidos. O bebê pode ficar irritado, vomitar, alimentar-se mal ou parecer letárgico ou irresponsivo a estímulos. Também podem apresentar a fontanela (moleira) protuberante ou reflexos anormais.
Sintomas de meningite viral
Os sintomas iniciais da meningite viral são semelhantes aos da meningite bacteriana: febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, náusea, vomito, falta de apetite, irritabilidade, sonolência ou dificuldade para acordar do sono, letargia, fotofobia (aumento da sensibilidade à luz). Em recém-nascidos e bebês, alguns dos sintomas descritos acima podem estar ausentes ou difíceis de serem percebidos. O bebê pode ficar irritado, vomitar, alimentar-se mal ou parecer letárgico ou irresponsivo a estímulos. Também podem apresentar a fontanela (moleira) protuberante ou reflexos anormais.
Sintomas de meningite por parasitas
Tal como acontece com a meningite causada por outras infecções, as pessoas que desenvolvem este tipo de meningite podem apresentar dores de cabeça, rigidez de nuca, náuseas, vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz) e/ou estado mental alterado (confusão).
Sintomas de meningite por fungos
Os sinais e sintomas de meningite fúngica são parecidos com os causados por outros tipos de agentes etiológicos, como segue: febre, dor de cabeça, rigidez de nuca, náusea, vômitos, fotofobia (sensibilidade à luz), e status mental alterado.
Como é feito o diagnóstico da meningite?
Se o médico suspeita de meningite, ele solicita a coleta de amostras de sangue e líquido cefalorraquidiano (líquor). O laboratório então testa as amostras para detectar o agente que está causando a infecção. A identificação específica do agente é importante para o médico saber exatamente como deve tratar a infecção.
Fonte: O Tempo.