Não foi um ano fácil. Com uma inflação acumulada em 5,13%, como divulgou o IBGE no início de dezembro, mas que alcançou 10,91% no caso dos alimentos, o poder de compra do brasileiro encolheu em 2022. Dar conta de todas as despesas ficou mais difícil. O endividamento e a inadimplência bateram recordes, principalmente entre os mais pobres. Mas com a chegada de um novo ano, surge a oportunidade de as famílias reajustarem as contas e se organizarem para tentar começar 2023 no azul.
Uma pesquisa do Instituto Opinion Box, encomendada pela Serasa, mostrou que quase dez entre dez brasileiros concorda que o planejamento financeiro é fundamental para manter equilíbrio econômico, mas apenas seis dizem que praticam alguma forma de controle de suas finanças pessoais.
O estudo ouviu 2.018 pessoas de todas as regiões do país e apontou que, nos últimos 12 meses, 88% dos brasileiros passaram por alguma situação que pode ser explicada justamente pela falta de controle financeiro.
– Planejamento, controle e educação financeira devem ser associados diretamente à saúde e ao equilíbrio financeiro das pessoas e das famílias. Quanto mais organizado financeiramente, menos o consumidor frequenta as planilhas de inadimplência – avalia Patricia Camillo, Gerente da Serasa e especialista em finanças.
Na hora de organizar as finanças, o diagnóstico das contas familiares precisa ser o mais detalhado possível, e nenhuma despesa pode ficar de fora. É o que orienta Wanessa Guimarães, sócia e head da HCI Invest e planejadora financeira CFP® pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar).
— O primeiro passo é ter a consciência do orçamento. É importante entender se ele está superavitário ou deficitário, ou seja, se está sobrando ou faltando dinheiro no fim do mês — analisa.
A partir daí, explica Wanessa, é preciso listar todos os gastos da família, tanto os fixos, que precisam ser quitados todos os meses, como os variáveis, que integram o orçamento em determinadas épocas ou que, em algum momento, serão encerrados.
Entram nos gastos fixos as contas de consumo, o aluguel, assinaturas de streaming, plano de saúde e medicamentos de uso contínuo, alimentação e a mensalidade escolar, por exemplo. Já os variáveis são as compras parceladas no cartão de crédito e parcelas de empréstimos, além de despesas que as famílias têm no início do ano, como impostos e materiais escolares.
A planejadora alerta que pequenas despesas também devem ser anotadas:
– Todos os gastos, mesmo que pequenos, devem ser anotados. Os presentes, almoços, o cafézinho, o estacionamento, também precisam ser registrados. Esses gastos, que a gente não dá valor no dia a dia, no final do mês somam um valor maior que impacta o orçamento. São gastos que fogem da nossa programação e é muito comum estourar as contas justamente nesses pontos.
Parcelas em aberto: atenção
A pesquisa do Opinion Box e Serasa mostrou ainda que 66% dos brasileiros recorreram a empréstimos em 2022, 22% deles para quitar dívidas do cartão de crédito, e 17% para pagar despesas inesperadas. Neste contexto, Wanessa recomenda ainda que uma lista a parte seja feita com parcelas de empréstimo e de cartão de crédito ainda em aberto.
— Sugiro que se anote o saldo devedor, ou seja, o que ainda tem para pagar, o valor de cada parcela e quantas parcelas ainda restam.
E grandes tecnologias ou opções online não são necessárias na hora de colocar as finanças na ponta do lápis: o bom e velho papel já ajuda na hora de estruturar o orçamento e se planejar. O importante, avalia a especialista, é manter o compromisso de inserir os dados na ferramenta escolhida.
— Qualquer ferramenta é eficiente, desde que você tenha o compromisso de inserir os dados. Costumo dizer que o melhor é o mais simples. Precisa ser fácil, algo que você consiga acessar com facilidade e tranquilidade, porque se virar um peso, se torna um fator para desistir do controle financeiro — defende ela: — O bom e velho caderninho também funciona, mas é bom manter dentro da bolsa, porque alguns gastos acabam esquecidos, principalmente o que a gente paga em dinheiro.
Quem preferir ferramentas digitais, no entanto, tem boas opções:
— Se for mais fácil utilizar uma planilha de Excel, ótimo. Para quem gosta e tem facilidade com aplicativos, eu sugiro o MoneyWise, o Guia Bolso e o Organize, que são ótimos aplicativos de finanças.
A especialista também indica que uma forma de facilitar o processo de controle das finanças é aderir a uma única forma de pagamento: o cartão de crédito ou o de débito. Assim, é possível acompanhar todos os pagamentos das despesas variáveis pela fatura do cartão ou no extrato bancário, respectivamente, o que otimiza o processo de registro dos gastos.
Contas de início de ano
Com todo o planejamento do orçamento para 2023, o novo ano já chega impactando as finanças com despesas tradicionais de início de ano, como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), além dos materiais escolares das crianças e adolescentes.
No Rio, por exemplo, motoristas que pagarem o imposto de uma unica vez terão 3% de abatimento. Já quem quitar a cota única do IPTU na capital fluminense até 7 de fevereiro terá desconto de 7%.
Para o economista e professor do Ibmec Gilberto Braga, a opção é válida para quem tem reserva financeira:
— Se tiver que fazer dívida, como pegar empréstimo para quitar à vista, não vale a pena porque tradicionalmente os juros cobrados nesse endividamento são mais caros do que o desconto dado para quem optar por pagar com abatimento.
Para manter a saúde financeira
Anote tudo
Liste todas as despesas, tanto as fixas, como contas de consumo, alimentação e aluguel, quanto as variáveis, como parcelas de empréstimo e compras parceladas no cartão. Dessa forma é possível visualizar melhor o orçamento e avaliar o que deve ser revisto.
Não atrase contas
Mesmo que não haja cobrança de juros, o desrespeito aos prazos de vencimento de boletos pode incluir o nome do responsável nos cadastros de SPC e Serasa.
Antecipe pagamentos
Considere ainda antecipar o pagamento de crediários, se tiver o dinheiro, já que o ganho do fundo de renda fixa é menor do que o custo de um financiamento. Não compensa investir o dinheiro e sacar as parcelas todo mês.
Pesquise preços
Mesmo despesas essenciais, como aluguel, podem ser reduzidas, se houver uma boa pesquisa de preços.
Monitore gastos
Além disso, contas de água, telefone e energia elétrica apresentam, em média, 20% de excesso. Monitorar aparelhos elétricos ligados desnecessariamente e procurar vazamentos ajudam a economizar.
Planeje as compras
Antes de ir ao mercado, listar os itens em falta é importante para não comprar por impulso. Organize também os dias de compras, considerando as promoções.
Busque desconto
Nas lojas, verifique se há a possibilidade de descontos para pagamentos à vista. A redução pode chegar a 20%.
Controle o cartão
Concentrar os gastos num único cartão de crédito traz vantagens, como isenção de anuidade, pontuação de programas de fidelidade e controle dos gastos mais fácil.
Investigue condições
Busque nas operadoras de cartões de crédito um parcelamento com juros que não ultrapasse 3% ao mês e cujas prestações caibam na renda mensal.
Programe despesas
Dos gastos com viagens às despesas nas datas comemorativas, registre tudo numa planilha. Isso ajuda a planejar o orçamento mensal.
Programe as férias
Se sabe o mês em que vai sair de férias, comece a procurar pacotes e passagens e evite a inflação de última hora.
Renegocie
Para quem está fechando 2022 no vermelho, calcule com a instituição o valor que está em atraso e tente uma renegociação do débito. Mas lembre-se: a parcela precisa caber no orçamento de maneira confortável. Se o valor for muito alto, é um risco de já começar o pagamento com a perspectiva de atraso por conta da dificuldade de pagamento.
Mais prazo, valor menor
Outra opção para quem está com dívidas em aberto é alongar o prazo de pagamento para reduzir a parcela para um valor que se adeque melhor ao orçamento da família.
Fonte: Extra. Globo.