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Obra no IML expõe servidores e usuários a risco e horror

Por Dentro De Tudo:

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Em uma sala antiga e mal-iluminada, sangue escorre pelo chão e se acumula em meio a macas ocupadas por cadáveres. O ambiente de ventilação precária tem odor fétido, que atrai moscas e causa repulsa a qualquer desavisado que por ali precise passar. Poderia ser o cenário de um filme de terror, mas se trata da atual situação do necrotério do Instituto Médico-Legal (IML) de Belo Horizonte, localizado na região Oeste.

O caos começou na última semana de dezembro de 2022 e, segundo funcionários que denunciaram a situação à reportagem, é resultado da falta de planejamento para execução de uma reforma no setor de necropsias. De acordo com a fonte, que terá a identidade preservada, a obra obriga os trabalhadores a se espremerem em uma única sala para executar todo o serviço, que antes era feito em três ambientes distintos.

“Não questionamos a obra. Ela é extremamente necessária, porque vínhamos trabalhando em um prédio caindo aos pedaços. O problema é a forma como foi feita, sem planejamento”, denuncia. 

Desorganização e insalubridade

Outro servidor, que também solicitou anonimato, reclama que faltam organização e salubridade: “Fica tudo no mesmo espaço: os corpos que chegam, os que ficam aguardando exame e os que já tiveram a necropsia realizada. Inclusive, no mesmo espaço, tem o reconhecimento por familiares, o que é uma coisa absurda. Colocaram uma lona preta para isolar e não verem a gente trabalhando”, relata.

Um vídeo ao qual a reportagem teve acesso comprova que o cenário é perturbador. Nas imagens, é possível observar água e sangue empoçados no chão, no local onde são feitas as necrópscas, devido à ausência de ralos para escoamento do material durante a lavagem dos corpos.

Ainda é possível avistar os equipamentos de proteção individual dos funcionários no mesmo ambiente onde são acondicionados os corpos. “Tanto a gente, quanto os cadáveres e as famílias são completamente desrespeitados”, denuncia um servidor.

Relatos dos trabalhadores são impressionantes

“Não tem mais ralo. A água que usamos para lavar o corpo está sendo despejada diretamente no chão.  Se abro um crânio e um pedaço do cérebro vai para o escoamento, ele vai cair no chão.”

“Tinha um fio elétrico no chão em meio à água, porque não tem ralo para escoamento. A vida dos profissionais está em risco. Já não é apenas insalubre, é um serviço de alta  periculosidade.”

(Sob condição de anonimato)

Polícia Civil nega que obra prejudique atuação dos profissionais

Em nota, a Polícia Civil de Minas negou que a obra em andamento no IML de BH esteja prejudicando a atuação dos servidores no necrotério. “Em nenhum momento as intervenções na estrutura do prédio causaram prejuízos ao trabalho dos profissionais”, afirma o texto.

Embora o vídeo ao qual a reportagem teve acesso mostre botas e ferramentas armazenadas no mesmo ambiente onde são feitas as necropsias, a corporação declarou que os equipamentos de proteção individual “são armazenados de acordo com normas técnicas de segurança e recomendações sanitárias, em local limpo e seguro”. 

A corporação ressaltou a importância da obra, orçada em R$ 15 milhões, e afirmou que se trata da primeira reforma desde que o prédio foi erguido, há 45 anos. As intervenções devem terminar no fim do primeiro semestre de 2023, diz o órgão. 

A corporação não disponibilizou fonte da Superintendência da Polícia Técnico-Científica.

Sem retorno

Na terça-feira (3), a reportagem solicitou à Polícia Civil, órgão responsável pelo IML de Belo Horizonte, autorização para visitar o instituto e ver de perto as condições de trabalho dos servidores do necrotério. Até o fechamento desta edição, no entanto, a corporação não havia respondido ao e-mail. 

Fonte: O Tempo – Foto: Reprodução.

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