Para haver um retorno seguro às aulas presenciais em Minas Gerais, é preciso se observar a realidade de cada localidade, de acordo com a infectopediatra Gabriela Araujo, diretora de comunicação da Sociedade Mineira de Pediatria (SMP). “Minas Gerais é um Estado muito grande e cada parte tem um contexto epidemiológico e estruturas diferentes. Isso precisa ser considerado ao se estudar um retorno”, afirmou a médica.
“Agora estamos caminhando para a estabilidade de casos em Minas. A curva ainda não é descendente, mas não é mais ascendente, e isso permite iniciar discussões sobre um retorno. Durante essa fase preparatória, as escolas poderão fazer a adequação”, explicou.
De acordo com a especialista, com a redução dos indicadores de monitoramento da epidemia em Belo Horizonte, especialmente da taxa de transmissão (atualmente o RT está em 0,94), já é possível se estudar um retorno às aulas presenciais na cidade. Quando o Rt está abaixo de 1,00, a tendência é de haver uma queda na curva da epidemia.
“Há um consenso de que o retorno não deve acontecer quando o nível de transmissão do vírus é alto, mas podemos tratar disso a partir do momento em que houve uma redução”, afirmou.
Segundo Gabriela, há dados científicos que indicam uma menor transmissão do vírus pelas crianças, em relação aos adultos, e há uma probabilidade baixa de contaminação por professores e funcionários na atividade escolar, se os protocolos forem seguidos. “É mais fácil eles contraírem o vírus em outras situações, como confraternizações e transporte público”, detalhou a especialista.
A SMP recomenda às escolas que o retorno seja escalonado – com horários de entradas, saídas e intervalos para as turmas, mesmo que reduzidas – e facultativo, em nome da segurança dos alunos com comorbidade.
Prejuízos
A falta do ensino presencial tem provocado diversos prejuízos à sociedade, segundo a infectopediatra. Um deles é a queda de rendimento acadêmico, até mesmo para aqueles estudantes que tiveram acesso a aulas online.
“A socialização é fundamental, especialmente para os alunos no início da idade escolar e para os adolescentes. Na escola é possível fazer amigos, aprender a trabalhar em grupo e ter empatia. O aprendizado muitas vezes vem com os pares”, disse Gabriela. “Também houve um aumento no sofrimento mental, deixando crianças mais irritadas, agressivas e dependentes dos responsáveis”.
Outra questão é a vulnerabilidade social em que estão inseridos os alunos de camadas mais pobres da sociedade. “Muitos pais voltaram ao trabalho, mas não têm com quem deixar as crianças. Elas estão nas ruas, ficando em creches clandestinas. E há ainda o problema da evasão escolar, especialmente entre os adolescentes”.
Fonte: O Tempo.