Morar sozinho é o principal objetivo da Geração Z na hora de comprar ou alugar um imóvel. Esse desejo dos jovens nascidos entre os anos 90 e 2010 é manifestado por 38% dos que buscam imóvel para comprar e 39% dos que procuram alugar, segundo pesquisa do DataZAP+, braço de inteligência do ZAP+. De acordo com o levantamento, entre os que pretendem alugar um imóvel, a proximidade com o trabalho e a independência são as razões citadas por quatro em cada dez entrevistados.
A pesquisa mostra ainda que a possibilidade de morar sozinho é a mais indicada pelo público da classe D/E (56%), enquanto a necessidade de mudar de estado ou cidade tende a ser mais indicada pelo público que está na classe A (34%). De acordo com as análises do DataZAP+, esse comportamento aponta um desejo de independência da geração Z. “Os indivíduos desse grupo estão na fase de se tornarem independentes de suas famílias, e buscam autonomia. Podemos observar que muitos irão morar pela primeira vez sozinhos, ou com um parceiro”, analisa Larissa Gonçalves, economista do DataZAP+.
Mas é preciso cautela
Esse desejo de independência, no entanto, precisa ser avaliado com cautela, na visão do professor da Escola de Ciência da Informação da UFMG, Claudio Paixão. Para ele, jovens da geração Z tendem a pensar o mundo da perspectiva de que tudo pode ser “muito ágil” e “muito fácil” de ser resolvido, correndo risco de “fantasiar” a ideia de independência. A consequência, lá na frente, é se deparar com desafios para os quais não estava totalmente preparado.
“O que a gente observa – não estou generalizando – é que muitos jovens, especialmente de classes média e alta, são independentes com a carteira alheia”, critica. “Muitos desses jovens querem morar sozinhos, mas precisam do apoio dos pais. Eles querem viver sozinhos, mas precisam de algum recurso que não vem deles”, explica.
Um dos problemas disso é a frustração após se dar conta de que há outra realidade para enfrentar. “Por ser muito imediatista, ela (a geração Z) tende a imaginar que os resultados das ações tendem a vir muito rápido, né? E, quando não vêm, isso gera uma frustração muito grande”, diz.
Apesar de pontuar, nesse caso, uma característica frequente entre jovens de classe média, Paixão explica que, para analisar a geração Z, é preciso considerar as diversas características e classes sociais em que esse grupo se encontra. Dependendo da classe social e da própria realidade, os jovens terão ambições distintas umas das outras.
“Geração Z no Brasil é um conceito muito perigoso porque o Brasil é tão diverso! Ele tem tantas nuances! As adversidades ou as diferenças econômicas são tão gritantes que quando a gente pensa na Geração Z brasileira, a gente tem que pensar em várias gerações Z”, diz. “A gente tem que pensar que a gente tá falando de um nicho e de um recorte muito específico.”
Comportamento de consumo
As discussões sobre o desejo da compra ou aluguel de um imóvel para morar sozinho refletem, ainda, o comportamento de consumo da geração Z. Claudio Paixão explica que a geração Z nasceu numa era em que o agente econômico é flexível, ou seja, uma geração de pessoas que conseguem se realizar profissionalmente, empreendendo, usando a capacidade criativa e desenvolvendo projetos. Essa capacidade, porém, não é absoluta. “A geração Z nasceu nesse mundo onde essa essa fluidez existe, mas ela não é a garantia do sucesso. Essa fluidez é a garantia simplesmente da sobrevivência”, pontua.
Ele observa, inclusive, que a geração Y não viveu esse ideal. “Havia uma discussão nos anos 80/90 de criar o agente econômico flexível. E o quê que é o agente econômico flexível? É aquela pessoa que tem a carreira dela nas mãos. Então, ela é competente para ousar”, diz. “Mas esse é o ideal de uma geração que não se realizou nela, as pessoas viram que essa mobilidade existe para poucos.”
Outro ponto levantado pelo professor é o padrão de consumo da geração Z. Segundo Paixão, ela se baseia muito sob a ótica do outro, daquilo que o outro vê e julga. “Para essa geração é muito importante uma respeitabilidade social. Ela precisa ser vista, ter a reputação social mantida e exercitar sua influência”, diz e acrescenta, por exemplo, a preocupação com a sustentabilidade. “O consumo dela acaba sendo moldado a partir disso”.
Fonte: O Tempo.