Superlotação, falta de vagas e sobrecarga dos atendimentos. Essa é a situação no hospital Risoleta Neves, unidade responsável por atender cerca de 1,5 milhão de pessoas Norte de Belo Horizonte e de municípios do entorno. O cenário de caos se ilustra com o grande número de macas com pacientes espalhadas pelos corredores e pela recepção do hospital. “Isso está me assustando, me disseram que tem gente aguardando por cirurgias há duas semanas”, relata o administrador Wenderson Nery, de 35 anos.
Ele acompanha o seu irmão, Leandro Nery, de 33 anos, que chegou ao hospital após se envolver em um acidente de trânsito na avenida Brasília, em Santa Luzia, durante a madrugada de segunda-feira (31). “Meu irmão veio com o Samu, passou por uma triagem, fez um exame raio-x e, desde então, foi colocado em uma maca aqui no corredor. Ele reclama das dores e ninguém deu alguma previsão de quando será a cirurgia”, conta Wenderson.
Ainda segundo o empresário, a assistência está longe do ideal para o seu irmão e para os demais pacientes que esperam por atendimentos no hospital. “São colocados em um canto improvisado. O Corpo de Bombeiros chegou hoje com um homem com uma fratura, e ele foi deixado nos corredores. Até agora não foi atendido ou avaliado”, relata Wenderson Nery. Ele afirma que a situação tem incomodado pacientes e também seus acompanhantes. “Uma jovem, que chegou ontem (31) a noite acordou gritando. Não tinha sido atendida. Isso piora ainda mais quando chega o horário de visitas”, conta.
Procurada pela reportagem na manhã desta terça-feira (1º de agosto), o hospital Risoleta Neves ainda não se posicionou sobre a situação na unidade. A matéria será atualizada com a resposta.
Casos
A situação do hospital Risoleta Neves pode ser justificada pela falta de recursos, uma vez que, segundo a diretora geral da unidade, Alzira de Oliveira Jorge, opera com um déficit de R$ 2 milhões. A ausência, ainda conforme a diretora, compromete investimentos em infraestrutura, readequação salarial das equipes e custeio das despesas, comprometendo o atendimento de pacientes. A unidade filantrópica realiza em sua totalidade atendimentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Em entrevista para O Tempo, a diretora Alzira Jorge afirmou que o déficit é consequência na falta de reajuste dos valores repassados pelo Governo de Minas para a gestão da unidade. “A gente teve um aumento de atendimento, ou seja, o meu hospital está ficando mais caro, preciso de mais medicamentos, preciso internar e girar o leito mais rápido. Então a gente tem que fazer um malabarismo para dar conta”, contou.
A responsabilidade pelo custeio do Risoleta é repartida, sendo 54% do Estado, 33% da União e 13% do município de Belo Horizonte. Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que “está ciente da situação do Hospital Risoleta Tolentino Neves e vem trabalhando no sentido de recompor os valores financeiros reclamados pela instituição”. Para O Tempo, o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, afirmou não vai aumentar os recursos disponibilizados pelo Estado para a unidade.
“O Risoleta recebe mais de 10% do orçamento da saúde. Um único hospital entre 400. A gente não pode deixar um desequilíbrio entre os outros hospitais, não tem como receber mais desse custeio”, justificou. Baccheretti garantiu, no entanto, que iria se reunir com a gestão da unidade, a fim de formalizar um novo acordo para otimizar a utilização dos recursos.
O governo federal garantiu, também em entrevista para O Tempo, que vai ajudar financeiramente os hospitais 100% SUS (Sistema Único de Saúde) de Belo Horizonte e que mantém o interesse em reduzir ao máximo o déficit do Hospital Risoleta Tolentino Neves. No entanto, não foi informado até quando isso deverá ser feito.
Fonte: O Tempo.