Fiocruz indica que BH pode alcançar um patamar ‘inaceitável’ nos casos de Covid

Por Dentro De Tudo:

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Belo Horizonte, que vinha registrando tendência de queda no registro de casos de Covid-19, passou a apresentar tendência de estabilização dos números nas últimas semanas, em patamares muito elevados, de acordo com dados do boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

O cenário é similar ao do estado, que também mostrou tendência de estabilização dos números da doença nas últimas três semanas em níveis superiores aos dos picos do ano passado.

O coordenador do sistema, Marcelo Gomes, alerta que, se o poder público e a sociedade não contribuírem com a adoção de medidas preventivas, a incidência pode acelerar e haver um novo pico.

Incidência de SRAG em Minas apresenta tendência de estabilização em níveis superiores aos dos picos do ano passado — Foto: Divulgação/ InfoGripe Fiocruz

O boletim aponta estabilização nas tendências de longo prazo (últimas seis semanas) e curto prazo (últimas três semanas) no número de casos notificados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a grande maioria causada pelo coronavírus, em todo o país.

Três macrorregiões de Minas Gerais já apresentam tendência de retomada de crescimento dos casos: Noroeste, Sul e Jequitinhonha. Todas estão na onda vermelha do programa Minas Consciente.

“Isso, por si só, já inspira grande preocupação, mas, mais grave do que isso, é o fato de que a estabilização, na maioria das regiões, e a eventual retomada do crescimento, em outras, estão ocorrendo em patamares extremamente elevados, inclusive em nível superior aos dos dois picos do ano passado. É um patamar inaceitável. Estamos falando de manter as internações e, consequentemente, os óbitos lá em cima”, explica Gomes.

Na avaliação do pesquisador, os dados reforçam a necessidade de cautela em relação às medidas de flexibilização nas cidades. Em Belo Horizonte, o comércio não essencial foi fechado pela última vez no dia 6 de março, quando a taxa de transmissão do coronavírus estava em alta na cidade. Naquele mês, o sistema de saúde da capital colapsou e faltou leito para atender os doentes.

No dia 22 de abril, após uma melhora nos indicadores, academias, bares, restaurantes, praças, parques e shoppings puderam voltar a funcionar.

Gomes alerta que a disponibilidade de leitos não pode ser critério para a flexibilização e o relaxamento dos cuidados. Na capital mineira, a ocupação das UTIs para pacientes com Covid-19 estava em 78,2% nesta quinta-feira (20), mas, em alguns hospitais, a lotação já se aproxima do limite. Na Santa Casa, chegou a 98%. No Hospital Eduardo de Menezes, a 97%.

“A gente morre mesmo tendo leito. Estamos lidando no Brasil com uma realidade na qual 30% dos indivíduos que acabam necessitando de hospitalização por conta da Covid vêm a falecer, mesmo tendo leito. Só o atendimento não resolve, precisamos não ter transmissão”, alerta o pesquisador.

Segundo ele, em patamares elevados de transmissão e de casos, como os atuais, mesmo o número de mortes de pessoas que apresentam baixo risco de evoluir para óbito se torna alto. Além disso, os vacinados ficam menos protegidos, já que os imunizantes não garantem 100% de imunidade.

Embora os dados da Fiocruz indiquem o comportamento das últimas semanas e não a projeção para as próximas, eles são um bom guia sobre o que se pode esperar. É fundamental não relaxar neste momento e redobrar a atenção às medidas preventivas, como uso correto de máscara, higiene das mãos e distanciamento, sobretudo com a chegada do inverno, quando as pessoas tendem a se concentrar mais em locais fechados.

“Se hoje a tendência está apontando para a retomada do crescimento, se nada for feito, o crescimento pode continuar e acelerar. Se voltar a crescer, rapidamente podemos colapsar de novo nossos sistemas de saúde. Infelizmente, muito por conta das nossas escolhas, sejam individuais, coletivas ou governamentais, nós nos colocamos nesta situação, mas temos condição de sair. Quanto mais a gente conseguir adotar o mínimo de esforços, todo mundo fazendo tudo o que está ao seu alcance, mais rápido a gente sai”, conclui Gomes.

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