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Dia do professor: educadores no limite

Por Dentro De Tudo:

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Neste domingo é comemorado o Dia do Professor. A data tem o objetivo de homenagear profissionais da atividade conhecida por especialistas por como uma das mais estressantes. Para além de um dia de descanso e honras, a celebração também demanda maior valorização do trabalho que, a cada dia, tem sido responsável por causar o adoecimento físico e mental de docentes. É isso que mostra uma pesquisa publicada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre os principais fatores para o agravamento da situação estão a falta de reconhecimento, salários baixos, altas demandas, intimidação e assédios.

No rol do adoecimento, o estudo lista transtornos mentais comuns, como ansiedade, depressão e sofrimento emocional; dores musculoesqueléticas na região lombar, ombros, braços e pernas; e Síndrome de Burnout, também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, que provoca sintomas mentais e físicos.

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A pesquisa identificou que as doenças estão associadas principalmente ao baixo apoio social, carga elevada de trabalho, altas demandas, baixo controle no trabalho, clima organizacional, ambiguidade de papéis, condições estressantes, desequilíbrio entre esforços e recompensa, baixo apoio da família, demandas relacionais – professor, pais, alunos –, intimidação e a segurança no trabalho.

“Os professores estão expostos a questões de ruídos e de doenças vocais. E a outros fatores como o salário baixo, a falta de apoio social, de segurança e de valorização do trabalho. Se o professor trabalha em uma área vulnerável, ele pode estar mais suscetível a questões de violência, por exemplo”, pontua Nayara Ribeiro Gomes, pesquisadora responsável pelo levantamento e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas da UFMG.
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Apesar de o estudo ter sido feito entre 2022 e 2023, os dados apontados se assemelham, e muito, com outro levantamento, publicado pela primeira vez em 1999, nota o professor e pesquisador em Educação Carlos Roberto Jamil Cury, indicando que o adoecimento de professores não é uma pauta nova. De acordo com o especialista, as condições de trabalho são o principal desencadeador do adoecimento de profissionais da área.

“A pesquisa da UFMG, de certo modo, confirma os elementos que compõem esse combinado de fatores pelo qual os professores chegam ao adoecimento. O primeiro deles são as condições de trabalho. Elas variam muito de cidade para cidade, principalmente se pensarmos em municípios maiores, como Belo Horizonte, e os compararmos com menores, como Soledade de Minas. E tem também uma variabilidade com relação às etapas da educação básica”, afirma Cury. Ele cita ainda o desequilíbrio entre esforço e recompensa – ou seja, trabalho e salário – como causa de afastamentos. “Muitos professores trabalham em mais de uma escola para recompor a renda familiar. E isso leva ao adoecimento”, explica.

AFASTAMENTOS

Confira: Educadores que ensinam como reescrever destinosCristina Ribeiro tem 50 anos, dos quais 21 dedicados a lecionar na educação infantil –  18 na educação pública de Belo Horizonte. Há sete anos, ela foi afastada de sala de aula depois de ter sido diagnosticada com bursite e tendinite,  quadros musculoesqueléticos dolorosos. A professora conta que o diagnóstico veio quando ela dava aula para crianças de até 3 anos e era responsável também por cuidados básicos, como banhos e troca de fraldas. Cada sala tinha 16 alunos. E todos os esforços necessários foram intensificando a condição médica.

Dar aula sempre foi o sonho de Cristina e ter que se afastar foi, além de tudo, “frustrante”. As doenças também afetaram sua vida particular, já que, na época, a professora tinha em casa três crianças para cuidar, sendo uma de 2 anos. “Depois do diagnóstico, eu passei pelas perícias médicas e quando fui afastada de sala de aula tive que parar de lecionar para crianças de até 3 anos. Ao mesmo tempo, eu tinha três filhos em casa,  de 6, de 4 e de 2 anos, e tive que parar de dar colo e cuidar como antes. Não podia pegar peso acima de 3kg, e atividades comuns do dia a dia, como lavar vasilha, estender uma roupa, e cuidar dos meus filhos se tornaram pesarosas. Sentia muita dor”, conta.

Afastada, Cristina perdeu também oportunidades. Entre elas,  a possibilidade de ser cotada para uma vaga de coordenação, mesmo tendo as qualificações necessárias. “Há casos de professores que escolhem não passar por perícia ou não procurar um diagnóstico, por medo desse afastamento. Por não quererem perder esses benefícios e por terem medo de sofrer rejeição pelo grupo. Muitos tentam mascarar a doença, para não cair na readaptação funcional. E nesse caso, vão procurar atestados, que melhoram no momento, mas o que tem causado as dores, por exemplo, continua”, observa.

TRANSTORNOS

A mais recente pesquisa sobre adoecimento de professores publicada pela UFMG aponta que mais da metade dos profissionais inquiridos têm quadros de transtornos mentais comuns. De 59,9% dos entrevistados, 53,3% foram diagnosticados com ansiedade, depressão ou sofrimento emocional; e 6,6% com Síndrome de Burnout.

De licença em decorrência de um quadro de depressão e fortes crises de ansiedade, uma professora de geografia que leciona para turmas do ensino fundamental e médio e não quis se identificar acredita que seu adoecimento foi agravado pela profissão.

“Inicialmente o afastamento me ajudou, pois a depressão me fazia ficar na cama o tempo todo. Agora ela está tratada. Voltei a me sentir uma pessoa útil. No entanto, tenho muita ansiedade, sobretudo em lugares cheios e fechados. Tinha taquicardia de pensar em ter que entrar numa sala de aula. Hoje sinto falta, quero voltar, mas ainda com medo. As salas estão muito cheias”, relata.

Flávio Luiz Gomes é psicólogo e tem percebido aumento de estresse entre alunos e professores no período pós-pandemia da COVID-19, quadros que têm sido agravado pelo temor de ataques às comunidades acadêmicas. “A violência nas escolas tem aumentado o temor tanto de alunos quanto dos professores, que muitas vezes são continuamente agredidos, principalmente os que trabalham em áreas de periferia. Há  situações de adoecimento geradas pelo contexto do trabalho, seja de gestão, da realidade das escolas ou do público delas”, explica.

 Entre as principais reivindicações de sindicatos representantes da categoria em Minas Gerais está o pagamento do piso salarial.  “O desafio é continuar existindo como profissão, como profissionais que investem na sua carreira, que estudam, que se formam. Da forma como o estado pensa a educação, não é possível ter sonhos, são só desafios e obstáculos. A cada dia menos jovens querem ingressar nos cursos de licenciatura. Não existe mais um sonho de ser professor, de atuar na educação. Isso é muito grave”, desabafa Denise Romano, coordenadora-geral do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação em Minas Gerais. 

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