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Porque pedir demissão é tão angustiante para as pessoas? Entenda

Por Dentro De Tudo:

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Há quatro meses, a autônoma Fernanda de Souza, 32, resolveu prezar por sua saúde emocional e dar fim à angústia que sentia saindo de seu emprego antigo. Ela contou que permaneceu no trabalho por cinco anos, mas, nos últimos dois anos, vivia esse dilema. “Demorei a tomar a decisão de sair, pois colocava o salário em primeiro lugar, precisava muito do salário para manter as contas da minha casa em dia”, relata Fernanda.

Fernanda também expõe que mantinha uma boa relação com os funcionários, mas que o principal problema enfrentado era a relação com o proprietário, por ele ser muito autoritário. “Já presenciei tentativa de agressão a outro funcionário, fui humilhada e vi outros funcionários sendo muito humilhados”, ela conta, ressaltando que gostava das demandas, mas situações como essas deixavam o ambiente tóxico para trabalhar, e isso foi o limite para pedir demissão.

A psicóloga e consultora em gestão de pessoas Patrícia Portes descreve os fatores psicológicos que tornam difícil para as pessoas pedirem demissão. Para ela, a insegurança com a empregabilidade e o mercado, o medo de sair do trabalho e não se adaptar a um novo ambiente e o julgamento social são os principais fatores. “As pessoas têm medo de pedir demissão e ficar por um longo período desempregadas. Outro fator é o julgamento social. Medo de serem vistas como fracas, incapazes, muito vulneráveis, alguém não deu conta de manter-se naquela atividade”, aponta a profissional, que prossegue: “O medo de ficar desempregado faz com que as pessoas se agarrem àquela oportunidade na qual elas já estão, mesmo que essa situação não esteja saudável, agradável, promovendo bem-estar ou realização”, conclui.

Para além do medo de ficar desempregado, Patrícia expõe outro grave fator psicológico que implica na dificuldade de pedir demissão, que é a acomodação. Em alguns momentos, as pessoas estão tão cansadas, tão sobrecarregadas por diversos motivos, que adiam esse movimento, esse gasto de energia, e também podem não estar dando conta, naquele momento, de passar por todo esse processo e por tudo que implica a troca de um trabalho. “Em alguns casos, a pessoa está tão demandada e em tanto sofrimento naquela situação de trabalho, que isso chega a afetar não só sua saúde mental como os seus relacionamentos interpessoais, pessoais, as suas amizades, relacionamentos intrafamiliares etc.”, pontua a profissional.

Acompanhamento. A profissional descreve que o acompanhamento psicológico é muito importante para tornar o processo de demissão mais fácil, pois com o auxílio do psicólogo é possível promover o fortalecimento desse trabalhador em relação às suas escolhas profissionais. Ao ajudá-lo a pensar de forma consciente nas suas escolhas e a enxergar as consequências de se manter num ambiente adoecedor, ele se fortalece para tomar aquela decisão. “Enxergar os sinais do adoecimento profissional que já está começando ou que já está mais avançado é importante também para fortalecer e endossar essa decisão de sair daquele ambiente”, afirma a psicóloga.

“O conselho que dou é: não postergue a saída de um trabalho onde não se sinta bem, que tenha um ambiente tóxico, entre outros fatores. Nada paga nossa paz e saúde”, relata Fernanda.

Salário emocional

A psicóloga clínica Letícia Rezende explica que o salário emocional é o conjunto de fatores que incentivam a permanência do colaborador para além da remuneração. “Perpassa pelo bom ambiente de trabalho, feedbacks constantes, o sentimento de ser escutado sem o medo de ser ridicularizado e se sentir respeitado e apoiado em seu bem-estar físico, social, emocional e financeiro”, afirma Letícia.

Para a auxiliar administrativo Ludmilla Athayde, 26, a maior dificuldade ao pedir demissão foi a pressão familiar e social. Ela explica que tinha um bom salário, horário flexível, além do antigo emprego ser próximo de sua moradia, mas que isso não valia em relação aos desrespeitos e humilhações sofridos. Quando informou sua decisão, alguns familiares e amigos afirmavam que ela estava fazendo drama e que deveria manter-se no emprego. “Falaram que eu estava fazendo drama, ou que não era isso tudo, mas só quem vive essa pressão sabe como é desconfortável”, relata Ludmilla.

A falta de reconhecimento é a principal insatisfação para Eduarda*. Ela conta que vive essa angústia há mais de um ano, e que ainda não tomou a decisão por medo, principalmente por ter um bebê de nove meses. “Nós (os funcionários) sempre damos 100% para a empresa, mas não somos reconhecidos. Sempre nos dizem que vão melhorar, mas não acontece, inclusive perderam três excelentes profissionais apenas neste ano”, aponta Eduarda.

* Nome fictício

Desligamentos

Um levantamento realizado pela LCA Consultores com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que, em 2022, mais de 6,8 milhões de brasileiros pediram demissão.

Fonte: O Tempo.

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