O Brasil teve 80 pessoas transexuais mortas no 1º semestre deste ano, segundo relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra).
Uma delas foi a adolescente Keron Ravach, de 13 anos, assassinada a pauladas em janeiro, no Ceará. Ela se tornou a vítima mais jovem na história do monitoramento, que é feito pela Antra há 4 anos. Segundo a polícia, ela foi morta por um rapaz de 17 anos.
O relatório da Antra é feito a partir de reportagens e relatos de organizações LGBTQIAP+. A associação denuncia que não existem dados oficiais e, por isso, entende que o número de assassinatos entre janeiro e junho deste ano pode ter sido ainda maior.
O Brasil se manteve em 2020 como o país o que mais mata trans e travestis: ao longo daquele ano foram 175 assassinatos.
Desses, 100 foram contabilizados no 1º semestre, número inferior ao do mesmo período de 2021, mas Bruna entende que a comparação não é precisa, uma vez que a pandemia ainda não estava estabelecida no Brasil no início de 2020.
Segundo ela, os desdobramentos da crise com a Covid pioraram as condições de vida da população trans, sobretudo para quem vive da prostituição, caso da maioria das vítimas de assassinatos.
Neste 1º semestre de 2021, a maioria das mortes violentas foi de mulheres trans/travestis negras, um perfil que se repete ano a ano. Dois homens trans também foram vítimas, de acordo com a Antra.
Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo seguem sendo os estados com o maior número de casos.
Expectativa de vida pode ter baixado
Entre as vítimas de assassinatos no 1º semestre das quais foi possível conhecer a idade, a maioria tinha menos de 35 anos, que é considerada a expectativa de vida dessa população no país.
O monitoramento da associação, assinado por Bruna e por Sayonara Nogueira, presidente do Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), contabiliza ainda 33 tentativas de assassinato de pessoas trans no 1º semestre.
Também foram levantados 9 casos de suicídio.
Opressões ‘se reorganizaram’
Apesar de o assunto ter ganhado mais espaço nos últimos anos, Bruna entende que também foram reorganizadas as opressões contra a população trans/travesti.
“Houve o surgimento de um levante antitrans que incorpora uma suposta proteção de crianças e adolescentes, mas que, na verdade, está se organizando para impedir o acesso a cuidados e a um ambiente acolhedor”, diz a ativista, citando, como exemplo, um projeto de lei que tramita na Assembleia de São Paulo que proibiria LGBTs de aparecerem em propagandas.
A Antra denuncia também as ameaças feitas contra vereadoras trans/travestis, como ocorreu em BH.
Esperança no SUS
A secretária de Articulação Política da Antra considerou uma vitória a determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes para que o Sistema Único de Saúde (SUS) passe a tratar usuários pelo gênero com o qual se identificam.
Se uma pessoa retificou seu registro civil e passou a se identificar como do gênero masculino, mas possui útero e quer engravidar, essa pessoa tem direito a um obstetra e a um pré-natal adequado, exemplificou o ministro.
Isso permitirá que pessoas trans não dependam apenas dos serviços de saúde especializados nessa população.
Para a ativista, é importante que a medida venha acompanhada de marcadores de identidade de gênero, para que seja registrado que o procedimento foi realizado em uma pessoa trans, evitando assim, que possa ser lido como um erro. O SUS tem até o próximo dia 28 para atender à determinação do STF.