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Acidentes graves ligam alerta nas rodovias da RMBH

Por Dentro De Tudo:

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O ruído alto de pneus e motor se aproximando ganha a forma de uma carreta de transporte de minério de ferro repentinamente na curva fechada da MG-435, em Caeté, na Grande BH. A subida íngreme de pista estreita com asfalto desgastado, coberto de lama e molhado de chuva, não comporta em uma só faixa o veículo de carga pesado, mas veloz, que invade alguns metros da contramão para conseguir virar. Em manobra brusca, o caminhoneiro freia e retorna para sua faixa para evitar o atropelamento dos cones postados para dividir os sentidos das pistas de Belo Horizonte e Caeté. Menos de um minuto depois do susto, um ônibus lotado de passageiros desce espremido na pista contrária e faz a mesma curva, por sorte sem encontrar ninguém invadindo a contramão. Na segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024, esse encontro ocorreu levando o motorista de 30 anos à morte e 19 passageiros ao atendimento hospitalar.

As atividades minerárias, agrícolas e industriais precisam escoar seus produtos, mas em vários pontos esse transporte concorre com ônibus repletos de passageiros e carros de passeio em vias apertadas, onde os desastres vêm se repetindo. Sobretudo na Grande BH, onde há vias como a MG-435 em que mais de 16% do tráfego responde por veículos de carga e 7,7% a transportes de passageiros, quase um quarto do movimento, segundo a última estatística divulgada pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais (DER-MG), feita em 2020. Em contato com a assessoria do DER-MG e da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade de Minas Gerais (Seinfra), os órgão consideraram que as vias recebem manutenção, sobretudo na época das chuvas.O volume médio diário anual de tráfego (VMDAT) medido pelo departamento responsável pelas estradas mineiras somava 2042 veículos. O percentual de 7,7% de veículos de passageiros é similar ao de rotas ligando centros mais populosos da Grande BH, como a MG-030, entre Nova Lima e Raposos, que é de 9% para um VMDAT de 2.823 veículos, mas em pistas com acostamentos e demarcações.

Já o percentual de 16,1% de veículos de transportes de cargas da MG-435 se aproxima ao de estradas com pistas duplas, terceiras faixas, acostamentos, separações ou que ligam grandes polos, como a AMG-105 na Zona Urbana e industrial de Santa Luzia, no Bairro Frimisa, com 15,4% de caminhões e carretas, ou a MG-020, na altura do Bairro Tupi, na Região Norte de Belo Horizonte, com 15,4%.

 O desastre com uma morte e 19 feridos entre uma carreta e um ônibus da linha 4800 (Belo Horizonte/Caeté) ocorreu por volta de 5h40, sendo que os horários de maior movimento da estrada são entre 5h30 e 7h, de segunda a sexta-feira. Aos fins de semana o movimento de ônibus e carros concorrendo com os veículos de carga se amplia ainda mais devido aos turistas e devotos que precisam seguir pela via para visitar o santuário e as atrações turísticas da Serra da Piedade.

O volume de veículos de cargas na Grande BH é ainda mais consistente na rodovia BR-432, entre o município de Esmeraldas, no entroncamento com a MG-060, e Ribeirão das Neves, com movimento diário médio de 1.649 veículos, sendo 42% deles carretas e caminhões circulando por uma estrada também estreita e sem acostamentos regulares. Um risco maior para os veículos de passeio, que somam 56% do tráfego de acordo com os dados do DER-MG, sendo 2% de veículos de passageiros.

MG-020: ESTREITA E SEM ACOSTAMENTOS

Estreita, sem acostamentos e com mato alto tapando a sua sinalização, a MG-020 tem trechos com circulação diária média de 1.206 (Taquaraçu de Minas a Jaboticatubas) e 1.105 (Santa Luzia a Taquaraçu de Baixo), sendo que os veículos de carga chegam a representar 8,6% do tráfego e os de passageiros 3,4%.

Caminho para o atrativo turístico da Serra do Cipó, mas também para destinos com Conceição do Mato Dentro e Serro, a MG-010 entre Jaboticatubas e Baldim apresentou uma circulação diária de 1.132, sendo 9,7% de carga e praticamente 5% de passageiros. O volume de caminhões e carretas é proporcional ao de vias mais largas e que fazem ligações com outros polos mais populosos, como a BR-356 em Itabirito (9,2%) e a própria MG-010, de Lagoa Santa ao Aeroporto de Confins (9,9%).

O segmento da rota turística MG-010, além de estreito e com sinalização deficiente, ainda tem registros constantes de excesso de velocidade, sobretudo de veículos de carga.

CARRETAS DE MINERAÇÃO COMPLICAM O FLUXO

A morte do motorista de ônibus da linha 4800 (BH/Caeté), Thiago Felipe Pereira, 30 anos, e os 19 passageiros feridos na batida de frente do veículo de transporte com uma carreta, no dia 19 de fevereiro, deixaram consternada a comunidade de Caeté. 

O rapaz que faleceu era nosso conhecido. Estava sempre no ônibus levando a gente, ganhando o pão dele do dia a dia. Isso traz ainda mais preocupações para a gente, não só quando precisamos ir de ônibus para Caeté, mas também por causa dos escolares que levam nossos filhos. O meu de 10 anos passa todos os dias nessa estrada e a gente pega com Deus para não ter nenhum acidente, mas a preocupação só passa quando ele chega. Até o dia seguinte”, disse a microempresária Rosália Brum, de 45 anos, moradora de Caeté.

De acordo com os passageiros, o motorista não teve como escapar da carreta que invadiu a pista e bateu de frente. Ele ainda ficou preso às ferragens e precisou ser transportado para o atendimento de emergência da Santa Casa de Caeté.

“Essa é uma pista muito estreita e de um tempo para cá aumentou demais o trânsito de carretas da mineração. A estrada não tem condições para isso”, avalia a moradora, que teme pela vida sua e de sua família quando precisam circular pela MG-435.

Segundo ela, a pista não tem condições de ter caminhões em velocidade mais alta, sobretudo porque muitos dos motoristas vêm de fora e não têm experiência naquelas condições. “Quem não conhece dirige muito rápido e não consegue fazer a curva dentro da pista”, conta Rosália.

A mulher sugere que o governo amplie a estrada ou traga medidas de segurança, mesmo que em conjunto com as mineradoras e transportadoras. “Todo mundo precisa tirar seu sustento, só que as mineradoras e o governo poderiam dar algum suporte para essa pista: ou alargar a pista, ou tivesse algum controle de velocidade para as carretas e fiscalização durante a semana para diminuir a velocidade. Não acho que radar adianta, porque a gente sabe que tem gente que depois que passa do radar, acelera de novo”, sugere.

Em alguns pontos da rodovia, o asfalto já precisa de recuperação devido a buracos e abatimentos causados pelo tráfego pesado intenso. Longos segmentos já estão desgastados e precisam ser novamente pavimentados. O resíduo dos pneus dos veículos que acessam a estrada por vias vicinais ou que cai das carrocerias dos caminhões também se acumula e torna a pista escorregadia. Boa parte da sinalização se encontra encoberta pelo mato e precisa de capina.

No trecho próximo à área de recuperação ambiental e a uma mineradora, a saída e chegada das carretas é monitorada por operadores com bandeiras e rádios nos dois sentidos.

GOVERNO DE MINAS RESPONDE

O Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) e a Secretaria de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias (Seinfra) afirmam serem os responsáveis pela expansão e melhoria da malha rodoviária com o PROVIAS, o maior programa de obras da última década.

Para atingir os objetivos de implantação, pavimentação, recuperação funcional, correção de pontos críticos, construção e recuperação de pontes, o PROVIAS tem, no momento, 124 empreendimentos, que representam 3.618 quilômetros, sendo 56 já concluídos (1.530 km), 46 em andamento (1.559 km) e 22 a iniciar (529 km) em todas as regiões do estado, representando um investimento de R$ 4,1 bilhões.

“Na microrregião Metropolitana de Belo Horizonte – onde se localizam os municípios de Caeté, Ribeirão das Neves, Esmeraldas, Santa Luzia e Taquaraçu de Minas – o PROVIAS tem um investimento de R$ 361,2 milhões, com doze trechos, com 142,6 quilômetros, 6 trechos concluídos (54,2 km), três em andamento (45,1 km) e três a iniciar (43,3 km)”, informaram os órgãos.

“Atualmente, para as rodovias MG-435, MG-020 e MG-432, o DER-MG monitora as condições de segurança viária, com radares instalados para controlar o excesso de velocidade. As condições de tráfego das rodovias são asseguradas por contratos de manutenção rotineira que compreendem a realização de operação tapa-buracos, roçada e capina da faixa de domínio, limpeza do sistema de drenagem, conferência da sinalização e monitoramento durante o período chuvoso”, informaram.

Sobre o movimento nas estradas destacado pela reportagem, o DER-MG e a Seinfra consideram outro levantamento, o Boletim Rodoviário, com dados de 2019, para medir o movimento das estradas, sendo: na MG-435, do entroncamento da BR-381 a Caeté, com extensão de 19,4 km (sendo 5,2 no perímetro urbano), o volume médio de tráfego é de 4.276 veículos, sendo 712 motos, 3.304 veículos de passeio, 114 de médio porte e 116 veículos pesados.

A MG-020, no trecho de Santa Luzia a Taquaraçu de Minas, com extensão de 21 quilômetros, o volume médio de tráfego é de 18.812 veículos, sendo 2.752 motos, 14.362 de passeio, 602 de médio porte e 1.096 pesados. E a MG-432, do entroncamento da BR-040 (Ribeirão das Neves) ao entroncamento com a LMG-808 (povoado de Caracóis), com extensão de 14 quilômetros, o volume médio de tráfego é de 14.119 veículos, sendo 964 motos, 12.062 de passeio, 393 de médio porte e 700 pesados.

Fonte: Estado de minas. crédito: alexandre Guzanshe/em/d.a press

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