No Brasil, a variante do coronavírus que predomina é a Gama, também conhecida como P1. Ela foi detectada no Amazonas, no início do ano, e rapidamente se espalhou pelo país, causando um aumento do número de casos da doença. Porém, é a variante Delta que tem causado maior preocupação nos médicos pelo seu grau de transmissibilidade.
Ela surgiu na Índia e rapidamente se espalhou pelo mundo. É uma variante com alta capacidade de transmissão da doença e foi responsável pelo colapso do sistema de saúde indiano provocando aumento expressivo de mortes.
Segundo a infectologista Melissa Valentini, da rede de laboratórios Grupo Pardini, que analisa amostras coletadas em todas as capitais do país, mesmo com o avanço da vacinação no Brasil, a alta transmissibilidade da variante Delta pode acabar aumentando o número de casos.
“Nos locais onde houve a introdução da variante Delta, em poucas semanas ela se tornou a variante predominante. Mesmo em locais com alta cobertura vacinal como no Reino Unido, esta variante foi responsável pelo aumento dos novos casos. Precisaremos aguardar para verificar como será esta interação entre a variante Gama (P1) e a Delta.”
Para a médica, o sequenciamento genômico do vírus é de extrema importância. Ele é um teste utilizado para verificar as diferenças do código genético viral e determinar o aparecimento de um uma nova variante.
“Saber qual o tipo de vírus circulante nos permite prever quais ações devem ser tomadas para o controle da pandemia. O sequenciamento é um teste de alto custo e difícil execução técnica e por isso não é realizado em grande escala. Através do sequenciamento, conseguimos analisar algumas mutações das novas variantes e a partir delas, saber qual a variante está circulando”, explica.
Teste de genotipagem do coronavírus
A equipe de pesquisa e desenvolvimento do grupo Pardini desenvolveu o teste de genotipagem do coronavírus. De acordo com a infectologista, ele é acessível, rápido e muito útil do ponto de vista coletivo. “Esse teste pode gerar dados para autoridades sanitárias no controle epidemiológico da doença.”
Somente com os resultados gerados por esses exames é possível fazer a amostragem das variantes no país. “Em uma pandemia, é a medicina diagnóstica que fornece as informações necessárias para se tomar as medidas sanitárias”, reforça a médica.
O exame também é feito pela técnica de RT-PCR, cuja coleta é por swab de nasofaringe e pode ser solicitado junto com o RT-PCR, sem necessidade de nova coleta.
“No caso de teste positivo realizado no nosso laboratório, se o teste for incluído até três dias após a liberação do resultado positivo, utilizaremos a mesma amostra e não será necessário nova coleta.”
Segundo a infectologista, as variantes do vírus SARS-CoV-2 são identificadas por meio da genotipagem por PCR em tempo real para as mutações N501Y, K417T, K417N, E484K, L452R, E484Q e P681R no gene da espícula viral capaz de caracterizar as seguintes variantes: Gama (P.1), Zeta (P.2), Alfa (B.1.1.7), Beta (B.1.351), Kapa (B.1.671.1), Delta (B.1.671.2) e P.4.
Melissa ressalta que estudos feitos na Europa, onde a variante Delta já tem uma grande presença, mostraram que as vacinas da Pfizer e da Astrazeneca tiveram uma pequena queda na eficácia em relação à variante original e a Alfa. “Entretanto, este panorama não traz grandes impactos e os imunizantes continuam sendo eficazes, principalmente nos casos mais graves”, afirma.
A infectologista reforça que as pessoas que já podem se vacinar, mas ainda não foram receber o imunizante, devem fazê-lo o quanto antes, já que a vacinação contra uma doença transmissível como a COVID-19 precisa de adesão, para a situação ser controlada.
“As vacinas são eficazes e já estão salvando muitas vidas, mas como em todas as vacinas, a proteção não é de 100% e veremos casos em pessoas vacinadas e por isso devemos reforçar que mesmo que a pessoa esteja imunizada as medidas como uso de máscara, higienização das mãos, evitando-se aglomerações devem ser mantidas”, lembra a médica.