Epidemias são bem mais frequentes do que imaginamos. Essa é a conclusão de um estudo estatístico realizado pela Universidade Duke, nos Estados Unidos, e pela Universidade de Padova, na Itália. Os pesquisadores calcularam a probabilidade de surgir uma pandemia de impacto semelhante à Covid-19 no futuro. Analisando os surtos de doenças que ocorreram desde o século 17, eles concluíram que as chances são em torno de 2% ao ano.
Segundo o estudo, uma pessoa nascida no ano 2000 já teria 38% de chances de vivenciar uma pandemia como a atual – o que, de fato, aconteceu. Os resultados foram publicados no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
Os cientistas utilizaram um modelo estatístico baseado em registros históricos de todas as epidemias dos últimos 400 anos, o que inclui surtos de peste bubônica, varíola, cólera, tifo e gripe, entre outras doenças. Há 476 epidemias documentadas (mais de uma por ano), mas não há registros do número de mortes de 114 delas. Os pesquisadores não incluíram as epidemias que ainda estão ocorrendo, como Covid-19, HIV e malária.
A probabilidade depende da intensidade da epidemia. Quanto maior é o surto, mais raro de acontecer. Uma pandemia como a da gripe espanhola, que matou mais de 50 milhões de pessoas em dois anos, têm uma probabilidade anual entre 0,3% e 1,9%. Considerando esses números, é provável que uma pandemia de impacto semelhante ocorra em algum momento dos próximos 400 anos.
Para uma pandemia ao nível da Covid-19, que já soma 4,4 milhões de mortes registradas, as chances ficam em torno de 2% ao ano. Os cientistas apontam que é provável que ocorra uma outra pandemia semelhante nos próximos 59 anos – um período de tempo que é “bem menor do que esperaríamos intuitivamente”, escrevem eles.
“A conclusão mais importante é que grandes pandemias como a Covid-19 e a gripe espanhola são relativamente prováveis”, diz o pesquisador William Pan, professor em Duke e um dos coautores do estudo. E pior: essa probabilidade tem aumentado com o passar do tempo.
Nos últimos 50 anos, os pesquisadores observaram um aumento de surtos causados por novos patógenos. Além do Sars-CoV-2, podemos citar as variações do influenza causador da gripe suína e gripe aviária, o vírus do ebola e o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Só este último já matou 36 milhões de pessoas desde o início da pandemia de Aids, em 1981.
A razão para isso pode ser apenas o aumento de registros – afinal, temos mais informação sobre o ano 1970 do que sobre 1670. Mas os pesquisadores apontam outras causas prováveis: o aumento populacional, mudanças no sistema alimentar, degradação ambiental e maior contato entre humanos e animais que podem carregar doenças.
“Isso mostra a importância de ter uma resposta rápida à surtos de doenças e de se construir uma vigilância local e global”, afirma Pan. “Além de estabelecer pesquisas para entender por que os surtos estão se tornando mais comuns”.