A população brasileira pode ficar tranquila ao consumir carne bovina, apesar dos dois casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), conhecida como “mal da vaca louca”, nos Estados de Minas Gerais e Mato Grosso. De acordo com a professora do Departamento de Tecnologia e Inspeção de Produtos de Origem Animal da Escola de Veterinária da UFMG Débora Sampaio de Assis, os casos são isolados, atípicos e só foram detectados por conta do rigoroso trabalho de inspeção sanitária realizado no país.
Segundo ela, o controle é feito em frigoríficos antes e depois do abate dos animais. “Exatamente por ter esse controle é que conseguimos diagnosticas os casos atípicos. Cada animal abatido passa por um sistema de inspeção rigoroso, passa por exames”, afirma a professora. “Por isso é tão importante o consumidor conhecer a procedência da carne consumida. No interior, a carne originada de um abate clandestino não passou pela inspeção, não tem garantia nenhuma”.
Débora explica que a suspensão de exportação de carne bovina para a China aconteceu por uma questão contratual, porque há cláusulas sanitárias para garantir a segurança dos consumidores e do rebanho do país importador. “Todo país tem suas barreiras sanitárias. Essa é uma garantia de segurança até que se conclua a investigação pelas autoridades chinesas”.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) já emitiu parecer confirmando que os dois casos são atípicos, não provocados por consumo de ração contaminada por uma proteína (como acontece quando há um caso de “vaca louca” clássica, nunca registrada no Brasil). No Brasil, o uso de ração com proteína animal é proibido para alimentar o gado e a inspeção visa garantir que a lei esteja sendo cumprida.
O caso detectado em um frigorífico de Belo Horizonte é de uma vaca de dez anos, abatida em um lote para descarte, ou seja, a carne do animal já não seria vendida em açougues. De acordo com Débora, a carne dos animais de descarte passa por diferentes níveis de verificação após o abate, para verificar ser transformado em subprodutos da indústria alimentícia. “Uma vaca leiteira, que passou a vida num sistema intensivo, em um processo de criação que pode estar sujeito a determinadas doenças. É feita uma avaliação sobre a qualidade para avaliar o uso dessa carne”.
A EEB atípica, que interfere no sistema nervoso do animal, é uma doença mais comum em bois e vacas mais velhos. Conforme a professora, cientistas ainda tentam descobrir por que esses animais desenvolve a mutação genética, mesmo sem consumir carne contaminada. Nesse caso, não há transmissão da doença para outros animais.
O problema para o consumo da carne bovina no país, na verdade, é o preço. Os valores chegaram até a cair um pouco nos açougues pesquisados pelo site Mercado Mineiro, mas seguem em um alto patamar para a população. Para se ter uma ideia, o quilo do chã de fora tem preço médio de R$ 38 e o contrafilé está saindo por cerca de R$ 45 na região metropolitana de Belo Horizonte.
Suspensão de exportação deve ser breve
A Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa) afirmou que não é possível fazer estimativa dos prejuízos para os produtores mineiros de carne bovina, uma vez que o período de suspensão das exportações para a China é muito curto, podendo ser de 15 a 30 dias.
“Acordos internacionais determinam que qualquer país, diante de uma suspeita de ocorrência do mal da vaca louca, suspenda a venda de carne. O retorno ocorrerá assim que as autoridades chinesas avaliarem as informações sobre o registro dos casos identificados”, diz a pasta, acrescentando que todas as ações sanitárias foram realizadas para garantir aos mercados interno e externo que o caso foi atípico.