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Pequi: Minas, Goiás e Tocantins disputam patrimônio do ‘ouro do cerrado’

Por Dentro De Tudo:

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O pequi se tornou protagonista de uma luta travada entre três estados – Minas Gerais, Goiás e Tocantins – para associar seu território ao valor cultural e socioeconômico do fruto que simboliza a diversidade do cerrado, gera emprego e renda para milhares de pessoas em áreas pobres e castigadas pela aridez no país. Três propostas de reconhecimento do mérito do pequi foram apresentadas no Congresso Nacional. A primeira delas, de autoria do deputado Marcelo Freitas (PSL-MG), visa à transformação de Montes Claros, no Norte de Minas, em capital nacional do pequi

O deputado José Nelto (Podemos-GO) quer tornar o pequi goiano patrimônio cultural, ambiental e ecológico nacional. Outro projeto, desta vez do senador Eduardo Gomes (MDB-TO), requer para o fruto o título de patrimônio cultural imaterial do Brasil. Nessa guerra para ser o “dono” do pequi, batalha empreendida principalmente por Goiás, Minas leva grande vantagem por ser o maior produtor no Brasil, tanto do fruto quanto de seus derivados. A presença na cena mineira é tao marcante que, por meio de uma lei, o pequizeiro virou árvore símbolo do estado.

A ocorrência da espécie e boa parte da produção de pequi se concentram em pequenos municípios do Norte de Minas. O Estado de Minas visitou comunidades da região, ouviu pequenos produtores e consultou técnicos e especialistas na atividade para mostrar a dimensão da cadeia produtiva do fruto, que será mostrada nesta série de reportagens “Pequi S/A”. Nos últimos anos, o poder de multiplicação de renda do pequizeiro alcançou expressivo crescimento devido à mudança no seu aproveitamento voltado ao mercado consumidor.

As engrenagens da produção, beneficiamento e comercialização passaram a girar durante todo o ano, e não apenas no período de safra, de dezembro a fevereiro. Isso permite às famílias apurarem receita com o fruto, inclusive quando se aproxima a floração das temporadas.

Isso é resultado do valor agregado obtido da cultura extrativista, graças às inovações tecnológicas que permitiram a venda do pequi congelado e o beneficiamento da matéria-prima. Surgiram vários derivados, como a polpa, farinha, óleo, castanha e pequi em conserva. A “cerveja de pequi”, já produzida, é prova disso e o fruto nativo também tem sido usado como matéria-prima para produtos medicinais.

Ao mesmo tempo em que ganha fama com a disputa de três estados em torno da sua produção, o comércio de pequi é feito com pouco registro oficial, à base da informalidade. O fruto faz parte da chamada economia invisível, que virou tábua de salvação para milhões de pessoas superarem a pandemia.

Uma delas é a produtora Lúcia Helena Rodrigues Macedo, de 51 anos, moradora do município de Japonvar, no Norte de Minas. “Considero o pequi um tesouro da nossa região e, principalmente agora na pandemia da COVID-19”, afirma. Ela trabalha com o marido, José Luiz Mendes de Macedo, de 56. O casal tem dois filhos: Tamires, de 27, que é casada; e Talisson, de 22, solteiro.

Em Japonvar, com seus 8,3 mil habitantes, a renda local e o comércio estão diretamente relacionados ao pequi. De acordo com o estudo da Empresa de Extensão Rural e Assistência Técnica de Minas Gerais (Emater-MG), 63% da população local cata o fruto no mato ou revende o produto durante a safra. Ainda segundo a Emater-MG, na temporada 2020/2021, o fruto nativo movimentou cerca de R$ 6 milhões no município e garante o sustento de centenas de famílias no restante do ano, graças ao beneficiamento e à comercialização de seus derivados.

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