Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), publicado esta semana no periódico científico Frontiers in Immunology, está ajudando a elucidar uma das maiores incógnitas da pandemia da Covid-19: por que algumas pessoas são resistentes e não se infectam com o novo coronavírus?
A pesquisa foi feita com 86 casais brasileiros, em que ambos foram expostos ao Sars-CoV-2, mas somente um dos parceiros desenvolveu a doença. Por meio de amostras de sangue, os pesquisadores descobriram que as pessoas que não foram infectadas possuem mais genes MICA e MICB. Pertencentes ao complexo MHC (principal de histocompatibilidade), estes genes ficam no cromossomo 6 e ativam as chamadas células killer (NK), que fazem parte da resposta inicial do sistema imunológico e são capazes de reconhecer e destruir células contaminadas.
Segundo os cientistas, as moléculas MICA aumentadas são cortadas na superfície celular infectada e passam para sua forma solúvel, que inibe seu receptor e diminui a atividade de células NK. Este processo favoreceria o desenvolvimento da doença. A redução do MICB também influencia a ativação das células NK, refletindo em resposta imunológica bem menor.
Outro conjunto pesquisado foi o LRC (complexo leucocitário humano), situado no cromossomo 19. Nas pessoas infectadas, os genes LILRB1 e LILRB2 apareciam cinco vezes maiores do que nos não infectados. Esses genes trabalham como inibidores das células NK, freando sua ativação e prejudicando o sistema imunológico. Em entrevista ao Jornal da USP, a professora Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos sobre o Genoma Humano e Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP e coordenadora da pesquisa disse que, com esses resultados, podemos pensar, futuramente, se seria possível aumentar a expressão do MICB com a ingestão de alguma droga e auxiliar as células de defesa no combate à infecção.