Compartilhar a cama é uma das tradições mais antigas quando falamos de relacionamentos amorosos e de casais. Tanto é assim que, no passado, quando um dos dois ia dormir no sofá da sala ou em um outro cômodo, isso era tido como sinal de que a relação andava mal.
Nos últimos anos, entretanto, a minha percepção é de que um número crescente de pessoas está adotando a prática de dormir separado.
Essa minha sensação, eu descobri, é corroborada por um grande número de vídeos no TikTok de casais relatando positivamente as suas experiências e por uma pesquisa feita pela Academia Americana de Medicina do Sono, que, em 2023, constatou que 1/3 dos casais já dormiam separados regular ou ocasionalmente. Nos Estados Unidos, inclusive, já existe um termo para isso: “divórcio do sono”.
Temos de admitir que a rotina de um casal pode ser muito diferente, o que significa que cada um dos pares pode ir para a cama em horários bastante distintos. Mais do que isso, o padrão de sono das pessoas é algo bem singular. Algumas mexem-se bastante ao sonhar. Outras, falam ou rangem os dentes, outras ainda roncam, levantam-se várias vezes durante a noite, gostam de dormir com a luz acesa, enquanto o parceiro ou parceira não. Isso significa que, para muita gente, o sono do outro pode ser um incômodo ao ponto de dificultar ou perturbar a qualidade da noite dormida.
E nós sabemos que qualidade do sono é um quesito importante da saúde mental. Noites mal dormidas, por exemplo, podem ter um grande impacto no humor, na ansiedade e até no padrão alimentar. Já há evidências de que déficit de sono cria um desequilíbrio hormonal que nos faz querer comer mais.
A deterioração da saúde mental pode impactar negativamente o relacionamento. Um estudo de 2017 apontou que casais que relatavam pior qualidade de sono também contavam apresentar mais conflitos conjugais.
A escolha por quartos separados pode ser, então, positiva para muita gente. Mas é importante que o par discuta francamente essa alternativa antes de que um deles simplesmente deixe o quarto.
E, para aqueles com filhos pequenos e que temem que as crianças possam achar que o casamento está em risco, uma ideia é explicar que vocês, pais, dormem melhor quando estão separados. Mesmo crianças menores, que certamente já sofreram por não ter dormido direito e acordaram mal-humoradas, vão entender isso.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.
O post “Divórcio do sono”: dormir em camas ou quartos separados pode ser bom para a saúde mental do casal apareceu primeiro em Forbes Brasil.