Pesquisa inédita do Datafolha, encomendada por Itaú Social, Fundação Lemann e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), mostra relação entre o aumento de estudantes com escolas que retomaram, mesmo que parcialmente, às atividades presenciais e a redução dos índices de desmotivação e dificuldades na rotina dos estudantes da educação básica. Segundo pais e responsáveis entrevistados, 51% dos estudantes que tiveram a possibilidade de voltar para escola estão desmotivados, e esse índice é de 58% entre os que ainda não tiveram a escola aberta. No caso das dificuldades com a rotina, a diferença é ainda maior: de 58% dos estudantes que tiveram as escolas reabertas, contra 70% dos que ainda não estão frequentando as aulas presenciais.
Segundo pais e responsáveis, 87% dos estudantes que já estão frequentando aulas presenciais estão se sentindo mais animados, 80% mais otimistas e 85% mais interessados pelos estudos. A pesquisa é a sétima de uma série que vem acompanhando a percepção das famílias brasileiras a respeito dos desafios da pandemia na educação desde 2020.
Outro dado positivo é a percepção dos pais e responsáveis em relação ao aumento da aprendizagem dos estudantes que tiveram a escola reaberta (56%) e aqueles que continuam nas atividades remotas (41%). Por outro lado, 39% acreditam que os estudantes se sentem despreparados em relação ao aprendizado, e que 19% estão com dificuldades no relacionamento com professores ou colegas.
A etapa qualitativa da pesquisa, realizada pela Rede Conhecimento Social por meio de grupos de discussão com famílias de estudantes, confirmou esse estado de apreensão tanto com defasagem de determinados conteúdos quanto com o possível desinteresse dos estudantes. Os participantes acreditam ainda que o apoio dos governos e das instituições de ensino é relevante neste momento e que é preciso definir com urgência o modelo que será adotado nas escolas, propor um cronograma e um planejamento de atividades.
“Os resultados demonstram o quão importante e urgente é a retomada das atividades presenciais nas escolas. Também apontam para a necessidade de um esforço conjunto da sociedade para recuperar a confiança e a autoestima dos estudantes, para que eles permaneçam na escola e possam recuperar mais rapidamente as defasagens no aprendizado geradas pela pandemia”, diz Daniel de Bonis, diretor de Políticas Educacionais da Fundação Lemann.
Desafios na rotina
“Cada rede de ensino empreendeu importantes esforços para a continuidade do aprendizado durante este longo período de afastamento do ambiente escolar. O professor foi o maior vínculo entre aluno e escola e se desdobrou para se adequar às novas tecnologias e propor atividades que estimulassem a atenção dos estudantes. Atenuar as marcas deixadas pela pandemia na educação exigirá um aprofundado ainda maior do debate sobre formato, currículo, habilidades prioritárias e investimentos para o retorno. Os alunos precisam ter a chance de recuperar a aprendizagem de forma efetiva e com equidade, considerando todas as perdas que os grupos mais vulneráveis passaram”, avalia a superintendente do Itaú Social, Angela Danemann.
Reabertura das escolas e recuperação de aprendizagem
Segundo os responsáveis, as escolas de 65% dos estudantes reabriram, a maioria com rodízio entre os alunos, sendo que em maio de 2021 este índice era de apenas 24%. Entre os que tiveram a escola reaberta, 72% voltaram às salas de aulas presenciais. A pesquisa mostra ainda uma grande diferença regional nesses dados: na região Sul, os entrevistados afirmaram que as escolas de 90% dos estudantes estão reabertas, em contraste com apenas 40% no Nordeste.
Mapa de estudantes com escolas abertas
Na retomada, 73% dos pais e responsáveis consideram a recuperação da aprendizagem o principal motivo para o retorno às aulas presenciais, e 22% disseram que a maior motivação é conviver e interagir com professores e colegas. A etapa qualitativa da pesquisa demonstrou uma importante relação entre a recuperação da aprendizagem e fatores socioemocionais, como ilustra um dos depoimentos coletados: “Meu filho vai para o 1º ano do Médio e está muito preocupado. Ele não conseguiu assimilar muita coisa, ele fica preocupado, não dorme direito. Fica ansioso.”
Ainda de acordo com os responsáveis, 68% dos estudantes de escolas que reabriram estão sendo avaliados no retorno às atividades presenciais para conhecer as dificuldades, mas apenas 36% estão recebendo aulas de reforço. A maioria também afirma que vem tendo apoio das escolas, com destaque para famílias de estudantes dos anos iniciais do Fundamental 1.
Para 88% dos responsáveis, os estudantes estão seguros no retorno às aulas presenciais, sendo a soma de 36% que consideram muito seguro e 52% um pouco seguro. A pesquisa também mostra que existe oportunidade de melhorar esse retorno, já que para 51% dos pais e responsáveis a escola está menos próxima da família após a interrupção das aulas presenciais, com índices mais altos nos anos finais do Fundamental 2 (56%) e no Ensino Médio (55%).
Percepção sobre a proximidade com a escola após um ano de pandemia
Alfabetização
A pandemia impactou o aprendizado de todos os estudantes, mas aqueles em processo de alfabetização do 1º, 2º e 3º anos foram especialmente afetados. De acordo com a pesquisa Datafolha, 74% dos pais e responsáveis responderam que o que mais ajudaria na evolução do processo de aprendizagem na volta às aulas presenciais é a presença do professor, enquanto apenas 8% consideram a companhia de outras crianças.
A dificuldade para ler e escrever é uma preocupação de 35% dos pais e responsáveis, 26% consideram não aprender o conteúdo adequado para a etapa de ensino e 21% temem que os estudantes não tenham base suficiente para passar para os próximos anos escolares.
A pesquisa
Estes são dados levantados pela sétima onda da pesquisa “Educação não presencial na perspectiva dos estudantes e suas famílias”. As entrevistas foram realizadas entre os dias 13 de agosto e 16 de setembro de 2021, com abordagem telefônica, com 1.301 responsáveis que responderam por um total de 1.846 crianças e adolescentes com idades entre 6 e 18 anos da rede pública, em todas as regiões do país. A etapa qualitativa foi realizada pela Rede Conhecimento Social, entre 26 e 28 de julho, por meio de Grupos de Discussão (GDs) on-line, realizados por plataforma digital.