Imagine uma coceira tão intensa que chega a causar feridas pelo corpo, atrapalhando a qualidade do sono e das atividades diárias. Assim é a vida de quem tem dermatite atópica, que atinge cerca de 20% das crianças e 3% de adultos nos países desenvolvidos. Somente no Pronto Atendimento do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), são atendidas, em média, 35 crianças por mês com sintomas da doença.
Davi Gomes Dias, de 10 anos, é uma delas. Ele tem dermatite atópica grave desde que nasceu e faz tratamento no HIJPII. “O atendimento é excelente. Todo mês meu filho é avaliado pela dermatologista do hospital”, afirma a mãe, Silvana Gonçalves Gomes. Segundo ela, há quatro anos ele teve uma piora no quadro de saúde, sofrendo crises frequentes e passou por quatro internações em um período de um ano. “Já tentamos vários tipos de tratamento. No momento, ele vem tomando injeções a cada 15 dias, mas não temos visto muito efeito, pois foi necessário iniciar tratamento também com antibióticos devido a uma infecção que ele teve na face há alguns dias”, afirma a mãe.
Para Davi, atividades comuns na idade dele, como brincar e ir à escola, são quase impossíveis. E o quadro fica ainda pior com o tempo quente e seco. “Para ele, é muito desconfortável brincar, pois o sangue agita, causando mais coceiras na pele. Ele fica nervoso, chora e acaba se ferindo ao coçar. Ir à escola, nem pensar, já que vestir roupa é um tormento. Em casa, ele normalmente fica só de shortinho ou cueca”, relata a mãe.
Além disso, são necessários cuidados especiais no seu dia a dia. “O suor piora muito o quadro do Davi. Com esse calor intenso, precisamos colocá-lo para tomar banho várias vezes ao dia para realizar a hidratação da pele. Porém, o banho precisa ser rápido e com água fria, senão o efeito pode ser contrário. Também precisamos ser bem cuidadosos com a higiene, mantendo as suas unhas sempre bem cortadas, a casa bem limpa, e as roupas lavadas com sabão de coco e passadas com ferro”, explica Silvana.
Evolução
De acordo com a dermatologista do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII), Amanda Ladeira, a dermatite atópica normalmente surge no primeiro ano de vida e desaparece na adolescência. “É uma doença crônica caracterizada por manchas na pele, coceira e pele seca. Em geral, até os 2 anos de idade, as manchas predominam na face e nas regiões extensoras dos braços e pernas. Após esse período, ela passa a acometer especialmente o pescoço e as dobras dos braços e joelhos. No entanto, aproximadamente 70% das crianças se curam na adolescência. Em alguns casos, a dermatite pode retornar na vida adulta, principalmente por questões emocionais”, explica a médica.
Ainda segundo ela, grande parte dos pacientes possui histórico familiar ou pessoal relacionados a doenças alérgicas como asma, alergia alimentar e rinite. Em até 50% dos casos, a dermatite também pode estar associada à deficiência de filagrina – proteína essencial para a manutenção da barreira cutânea.
Para evitar a piora do quadro, pessoas com dermatite atópica devem manter a pele sempre bem hidratada. Além disso, evitar locais com ar condicionado e manter as janelas sempre abertas para refrescar o ambiente.
Apesar de a maioria dos pacientes apresentar um grau leve e mais controlado da doença, casos moderados ou graves, como o de Davi, podem causar um grande comprometimento na qualidade de vida, especialmente em relação às atividades sociais.
Preconceito
Por ser uma doença que pode causar feridas, bolhas, inflamação e alterações na cor da pele, é quase inevitável escapar dos olhares das pessoas, que muitas vezes podem se afastar por acreditar que se trata de uma doença contagiosa.
“As crianças são bem curiosas e são frequentes as perguntas sobre o que aconteceu com ele e o porquê de ele estar com a pele daquele jeito. Temos muito medo que o Davi acabe sofrendo bullying, ou que os pais de outras crianças afastem seus filhos por achar que é algo contagioso, e isso afetar o psicológico dele”, afirma a mãe.
No entanto, a dermatologista reforça: “é importante deixar claro que a dermatite atópica não é transmitida de uma pessoa para a outra. Ou seja, não é uma doença contagiosa”.