Frequentemente associada à má alimentação, a anemia pode ser causada por vários fatores e não é uma doença, mas um sintoma, uma manifestação de um problema que está ocorrendo no corpo, de acordo com Fábio Pires, hematologista da Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Caracterizada pela diminuição da quantidade de hemoglobina no sangue, os principais sintomas da anemia são cansaço excessivo, palidez na pele e nas mucosas, dor de cabeça, tontura e dificuldade de concentração. “A hemoglobina é uma proteína que tem dentro dos glóbulos vermelhos, cuja função é levar o oxigênio do pulmão para o resto do nosso corpo”, explica Pires.
O surgimento dos sintomas, no entanto, pode variar conforme a velocidade que a anemia se instala no organismo. Se a diminuição de hemoglobina ocorrer de forma lenta, é possível que o corpo se acostume, em certa medida, e se adapte até que não seja mais possível manter a oxigenação adequada, e então o cansaço aparece.
“Já em uma linha de instalação mais rápida, os sintomas vão aparecer muito mais rapidamente, porque o corpo não teve tempo de se adaptar”, afirma o médico.
Tipos de anemia
O principal grupo de anemia é chamado de anemias carenciais, que ocorrem por falta de algum nutriente importante para a produção de glóbulos vermelhos e de hemoglobina. Em geral, segundo Pires, a falta de ferro é a causa mais comum do problema. “Em segundo lugar temos também a deficiência de outras vitaminas, como ácido fólico, vitamina B12 e cobre”.
O especialista destaca que a menstruação é a causa mais comum de anemia entre as mulheres, porque mesmo que o fluxo ocorra dentro da normalidade, a frequência pode ocasionar a falta de ferro.
Há também as anemias hemolíticas, que ocorrem quando o glóbulo vermelho vive por menos tempo do que deveria. Este fenômeno de destruição do glóbulo vermelho em velocidade acelerada chama-se hemólise.
“Isso ocorre por várias causas, desde a pessoa nascer com algum defeito no glóbulo vermelho que faz com que ele se rompa com mais facilidade, como uma doença chamada anemia falciforme”, ressalta Pires.
O médico explica que há ainda outras causas para a anemia hemolítica: quando o sistema imunológico sofre uma pane e o organismo começa a produzir anticorpos que destroem os glóbulos vermelhos; quando há acúmulo de toxinas, como veneno de cobra — uma causa frequente de hemólise; sofrer um choque térmico e alguns medicamentos que também podem causar hemólise.
A anemia ocorre no sangue
A anemia também pode ocorrer por fatores hereditários, quando a pessoa nasce com algum problema genético, como uma doença chamada talassemia, que faz com que a produção de hemoglobina seja menor que o normal.
Além disso, há o grupo de anemias causadas por doenças neoplásicas, como leucemia e mielodisplasia. Vale ressaltar que, ao contrário do que o senso comum apregoa, um quadro anêmico não pode evoluir para leucemia, pois o problema é um sintoma e não a causa, segundo o especialista.
“E tem outras causas, como anemia decorrente de inflamação, toda vez que a gente tem uma inflamação persistente no nosso corpo é possível ter um tipo de anemia chamada anemia de doença crônica; e a anemia aplásica ou aplástica, causada por uma doença autoimune que afeta todas as células da medula óssea, não apenas os glóbulos vermelhos”, explica Pires.
Prevenção e tratamento
É comum associar a anemia por falta de ferro a uma má alimentação, ou mesmo à falta de hábito de comer alguns alimentos, como carne de fígado ou feijão. No entanto, de acordo com o hematologista, via de regra a alimentação pouco interfere no desenvolvimento da anemia em pessoas adultas.
“Quando uma pessoa com uma dieta normal desenvolve uma anemia por falta de ferro é preciso, primeiro, entender a causa. Porque, em geral, é por algum sangramento, a pessoa está perdendo sangue em quantidades pequenas e isso está depletando o ferro que ela tem armazenado. O indivíduo adulto só tem falta de ferro por conta da dieta se ele estiver em uma restrição dietética muito severa, ou se tiver problema na absorção de ferro”, afirma o médico.
Alimentação balanceada é importante para a saúde
Mas há exceções, segundo Pires: crianças em fase de crescimento precisam de uma ingestão maior de ferro, por isso os cuidados com a alimentação são importantes, assim como pessoas que fizeram cirurgia bariátrica, que têm problemas intestinais ou doenças causadas por vírus graves.
“Às vezes mesmo com uma dieta normal eles não vão absorver ferro suficiente. Existe um mito na população de que se você não comer A ou B, vai desenvolver anemia. Isso é só válido para crianças e essas outras excessões”, destaca o médico.
Como as causas da anemia são diversas e podem ser, inclusive, de cunho genético, não existe uma cartilha para prevenção, de acordo com o especialista. O importante é estar atento aos sintomas e fazer os exames de rotina.
O tratamento também vai depender da causa e do tipo de anemia. “Se a anemia for por falta de ferro, é preciso repor, se for por falta de vitamina B12, o tratamento também será a reposição”, afirma Pires.
“Uma anemia não tratada vai causar progressivamente uma diminuição dos níveis de hemoglobina e consequentemente a pessoa vai ficando cada vez mais cansada, porque ela não consegue oxigenar direito. Em última instância, isso pode levar a uma falência cardíaca e o coração deixa de funcionar direito, essa pessoa pode até morrer, mas isso é raro de acontecer porque, em geral, antes de chegar ao extremo a pessoa percebe que tem alguma coisa errada e procura ajuda”, explica o especialista.