No Brasil em que o iPhone 13 custa a partir de 9.400 reais, comprar um modelo top de linha pode ser um desafio para muita gente: dados da consultoria GfK mostram que o preço de aparelhos novos subiu, em média, 16% entre janeiro e outubro deste ano. A situação econômica atual e o consequente comportamento de jovens de classe média baixa de procurar por opções mais baratas de experiência e não de posse dão o tom do que o dinheiro pode ou não comprar. Mesmo assim, a busca por alternativas para consumir o que está “na moda” não para. E é como um esforço de atender quem não pode — ou não quer — pagar por um celular novo a cada ano, aliado ao propósito de sustentabilidade e inclusão social, que a Leapfone foi fundada.
A startup oferece aparelhos novos e “reformados” por assinatura, como forma de trazer a inclusão social que um aparelho pode oferecer e de aproveitar melhor celulares que seriam descartados desnecessariamente após pouco tempo de uso.
“Pessoas trocam de celular em média a cada dois anos, e um aparelho topo de linha pode durar até uma década. Para ter uma ideia, na empresa, oferecemos o iPhone 8 para aluguel e funciona perfeitamente. Temos uma noção muito forte de que, mais do que passar um aparelho antigo para um parente quando este não funciona mais, é possível transformar a vida de outras pessoas com celulares que ainda funcionam e seriam substituídos por aparelhos mais novos”, diz Stephanie Peart, diretora da Leapfone.
O processo para aluguel é totalmente digital: o cliente acessa o site da Leapfone e escolhe o aparelho que deseja e por quanto tempo quer ficar com ele (os prazos vão de 12 a 30 meses). Caso o cliente queira cancelar a assinatura antes de um ano, é possível cancelar a compra e há uma taxa de 20% das mensalidades restantes para completar 12 meses.
Caso o cliente cumpra o prazo mínimo, ele pode escolher se quer ter desconto para as próximas mensalidades ou se quer, de fato, comprar o aparelho. A média mensal de preços é de 200 reais pelo aluguel e a startup oferece smartphones das principais marcas no país, como Samsung, Apple e Xiaomi. Os modelos mais procurados são os da Apple, seguidos por Samsung. Os preços variam, é claro, de acordo com a marca: o aluguel do iPhone 11 reformado fica em torno de 189,00 reais por mês, enquanto um modelo da Xiaomi está em 89,90 reais.
Apesar de a venda de celulares usados ser um mercado ainda pequeno no Brasil — as vendas desses aparelhos representaram 7,2% das vendas totais de smartphones no Brasil, como aponta a consultoria IDC Brasil —, a procura por aluguel desses aparelhos é bastante representativa na Leapfone. Do total de pessoas que procuram a empresa, 75% investe em smartphones reformados. A discrepância pode estar, além do preço, na experiência de oferecer aos clientes algo similar a um aparelho novo, com caixa e entrega bastante parecidas ao recebimento de um produto comprado em loja.
Com uma procura tão alta por aparelhos usados, a empresa ainda tem uma política razoavelmente simples de proteção de dados dos clientes: o pedido para que apaguem tudo antes de devolver ou de passar o celular para a empresa. “Caso não deletem, temos um protocolo para que poucas pessoas tenham acesso às ferramentas necessárias para deletar esse conteúdo. Se o usuário anterior não deletar, nós vamos. Levamos muito a sério as camadas de segurança e a Lei Geral de Proteção de Dados”, diz Stephanie.
A startup ganhou força em 2021 com a compra da operação pela seguradora Pitzi, que oferece principalmente opções de seguro de celular. A Leapfone entrou na companhia para ser incubada e desenvolver um novo modelo de negócio, o que foi concluído este ano. Contudo, a experiência da fundadora com celulares já tem mais de dez anos.
Lançada em setembro deste ano, a empresa tem atualmente 100 usuários e fila de espera de 2.000 pessoas. Para liberar mais pessoas, a startup investe na compra de estoque — o que se tornou um tanto desafiador em 2021, especialmente por causa do aumento de preços e da escassez de semicondutores. Também entram nesa conta fatores como análise de risco e de crédito dos clientes a ser aprovados pela Leapfone, de modo a evitar furtos e roubos.
A concorrência por esse modelo de negócio já existe — e também tem planos ambiciosos de crescimento. Empresas como a Allugator e a seção “Tech Fácil”, da Porto Seguro, também prometem oferecer serviços similares relacionados aos smartphones. A importância de estar conectada é fundamental: dados de 2020 do Comitê Gestor da Internet no Brasil mostram que os celulares são a principal ferramenta de estudo e trabalho na pandemia. Ter um bom aparelho é, claro, mais do que um luxo, mas uma necessidade.
De olho no aumento dessa demanda nos próximos anos, a Leapfone quer aumentar em 10% a base de usuários semanalmente de janeiro a dezembro de 2022. Superar os obstáculos de compra de aparelhos e análise de crédito são vistos como algo passageiro por Stephanie, diante da missão da companhia de oferecer celulares por assinatura a todo o Brasil.