Dos símbolos inconfundíveis como árvores, casas iluminadas e Papai Noel, passando por costumes típicos como a troca de presentes, a ceia com a família e os pratos típicos, o Natal é uma festa marcada por tradições culturais com origem no cristianismo, no paganismo e no folclore. Embora muitas dessas práticas sejam comuns na atualidade, pouco se sabe sobre como elas evoluíram ao longo dos séculos.
A reportagem do Interessa conversou com Pedro Paulo Funari, professor de história e arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que explicou alguns detalhes, fatos e curiosidades sobre a celebração natalina.
Quando e por que surgiu a comemoração do Natal?
De acordo com Funari, a celebração do Natal como nascimento de Jesus de Nazaré só começou a partir do século 4 d.C. “O dia 25 de dezembro já era festejado como o dia do deus do sol e da vida, já que a data representava o primeiro dia depois do dia mais curto do ano, ou seja, o retorno do aumento da presença da luz solar”, esclarece o professor. “Como Jesus Cristo foi considerado a luz do mundo, sua associação com essa data foi natural, em particular, seu nascimento, o início do novo ciclo do sol, da luz, do ano, da vida”, acrescenta.
Qual o real significado do Natal para o mundo cristão?
O propósito da data está mais relacionado à Páscoa do que ao Natal, segundo Funari. “A Páscoa simboliza a morte e a ressurreição, mas o Natal foi uma segunda representação da vida e do nascimento”, revela o historiador. Ele diz ainda que, a partir do século XX, com o triunfo do capitalismo, o Natal perdeu, em muitos aspectos, as significações religiosas e simbólicas e ficou mais comercial. “Com a ênfase na troca de presentes e na ativação econômica, surgiram muitos outros símbolos ligados à vida, mas sem a referência a Cristo”, sublinha.
Como o Papai Noel ficou relacionado à data?
Embora muitas versões digam que a imagem do Bom Velhinho foi baseada em um homem chamado Nicolau que viveu na Antiguidade e que virou santo, Pedro Paulo Funarii sugere que o personagem tem uma origem ligada aos meios de comunicação de massa. “O Papai Noel, uma reinterpretação do são Nicolau, simbolizava as trocas de presentes, em particular entre as gerações, avós (Papai Noel) e netos. Ou seja, para o mundo globalizado, capitalista e com muitos não cristãos, a mesma mensagem da vida adquire feições menos marcadas, menos cristãs e mais publicitárias”, diz.
De onde vem a tradição de dar presentes?
A troca de presentes é reconhecida no Natal pela história bíblica dos Três Reis Magos, Belchior, Baltazar e Gaspar, que ao visitar o menino Jesus em Belém, após seu nascimento, o presenteia com ouro, mirra e incenso. Para o professor Pedro Funari, a intenção central do gesto é reforçar vínculos afetivos. “Um presente é o que se dá para se fazer presente na vida ou em um momento especial de alguém. Não é à toa que esse se tornou a mais persistente característica do Natal”, frisa.
Estrela de Natal
“Esse costume está presente tanto na tradição cristã como na secular. A estrela no céu, que de início estava associada à simbologia de um astro a anunciar o divino, já era usada em ambiente politeísta, muito anteriormente. Posteriormente, os hebreus, e depois cristãos, adotaram o símbolo para associar sua crença ao poder dos astros. Por exemplo, Jesus Cristo, ao nascer, aparece associado a um astro”, aponta Funari.
A Ceia
O professor afirma que a ceia é uma tradição ancestral que pré-data o Natal. “Ela servia para marcar a separação entre o dia mais curto do ano e o mais longo. Daí a Missa do Galo, que acontece à meia-noite para ressaltar o momento exato da mudança de um dia para o outro”, finaliza o especialista.