A campanha Novembro Azul, tradicionalmente dedicada à prevenção do câncer de próstata, também serve como um momento de reflexão sobre a dificuldade que os homens têm em buscar ajuda para a saúde mental. Durante entrevistas, a maioria dos homens revelou uma resistência a procurar terapia, como exemplificado por Marcelo Washington, de 27 anos, que afirma não sentir necessidade de terapia. Outros, como Heraldo Filho, de 66 anos, e Célio Silva, de 75 anos, optam por atividades físicas e alimentação saudável como formas de lidar com o estresse.
Por outro lado, Maximiliano Ribeiro, de 50 anos, compartilha sua experiência positiva com a terapia, recomendando-a como uma ferramenta valiosa para a saúde mental. Esse contraste evidencia a resistência cultural que os homens enfrentam, com a psicóloga Mirvanie Gonzaga apontando que o papel tradicional do homem como provedor e a pressão para não mostrar fraqueza contribuem para essa situação. A psicóloga Luciana Passeado complementa que os homens, especialmente os acima de 45 anos, geralmente buscam ajuda apenas quando incentivados por mulheres ou filhos, e muitas vezes só após a doença se agravar.
Essas barreiras são intensificadas por tabus e preconceitos relacionados à masculinidade tóxica, que promovem a autossuficiência e a negação da vulnerabilidade, levando muitos homens a buscar alternativas prejudiciais, como o abuso de álcool. Segundo Mirvanie, a morte autoprovocada é quatro vezes mais comum entre homens, com queixas frequentes relacionadas a estresse, ansiedade e problemas financeiros.
A necessidade de desconstruir esses estigmas é evidente, com especialistas como Luciana enfatizando a importância de campanhas de conscientização que abordem a saúde mental de forma inclusiva. Ela compara a relutância em buscar ajuda psicológica com a prontidão em buscar cuidados médicos para condições físicas, ressaltando que a saúde mental deve ser tratada com a mesma seriedade.
A crescente incidência de transtornos alimentares entre homens também é notada, com as redes sociais e os padrões de beleza contribuindo para essa mudança. Luciana destaca que o ideal de virilidade e sucesso profissional pode levar a sérios problemas emocionais, defendendo políticas de saúde que considerem o contexto sociocultural dos homens.
Assim, o Novembro Azul se transforma em uma oportunidade não apenas para a prevenção do câncer de próstata, mas também para abordar as questões de saúde mental que afetam a população masculina. Luciana conclui que o cuidado é uma necessidade humana, independentemente do gênero, e que é crucial superar os limites impostos pelas normas sociais para garantir o bem-estar de todos.
Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 04 de novembro de 2024 | 06:00
Fonte: O TEMPO