A obesidade, o sedentarismo e o consumo abusivo de álcool aumentaram em adultos de capitais brasileiras em meio à pandemia. Os dados são do IEPS (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde). Tais hábitos são fatores de risco para o desenvolvimento de hipertensão, diabetes e outras DCNTs (Doenças Crônicas não Transmissíveis). A incidência é maior em camadas mais simples da sociedade.
De acordo com a nota técnica “Doenças Crônicas e Seus Fatores de Risco e Proteção: Tendências Recentes no Vigitel”, do IEPS, o aumento desses problemas aconteceu já no início da pandemia de Covid-19, em 2020.
Entre 2019 e 2020, todos os indicadores pioraram, exceto o número de fumantes. O consumo abusivo de álcool entre os adultos das capitais brasileiras teve aumento de 18,8% para 20,9%. A taxa de inatividade física foi de 13,9% para 14,9%.
Consumo de álcool estimula ganho de peso
O presidente da regional Minas Gerais da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), Rodrigo Lamounier explica ao BHAZ que o consumo de álcool está ligado, também, à hipertensão e ao ganho de peso.
“O consumo excessivo de álcool é um risco para a saúde e deve ser combatido. No Brasil, é importante esse combate até por conta do alcoolismo, que é um problema endêmico do nosso país”, diz o especialista.
Outro indicador que aumentou entre os adultos das capitais brasileiras é a obesidade, que deu um salto em 14 anos, de 11,8%, em 2006, para 21,5% em 2020. O maior índice é de Manaus (24,9%), Cuiabá (24,0%) e Rio de Janeiro (23,8%). Ao todo, 16 capitais registraram patamares acima de 20% em 2020. Os dados alertam que, até 2011, nenhuma capital tinha essa taxa acima de 20%.
Desigualdade nos diagnósticos
A nota técnica do IEPS também aponta uma associação entre o nível de escolaridade e os diagnósticos de hipertensão arterial e diabetes mellitus, por exemplo. De acordo com os dados, o percentual de hipertensos e diabéticos entre pessoas com até 8 anos de estudo é quase três vezes maior do que aqueles que têm 12 anos de estudo ou mais.
Ademais, 44,7% dos menos escolarizados tiveram diagnóstico de hipertensão arterial e 15,2% com diabetes mellitus. Já no grupo com maior escolaridade, essas percentuais são de 15,2% e 4,4%, respectivamente.
“Observamos um gradiente claro entre nível de escolaridade e prevalência de doenças e fatores de risco no ano de 2020, o que sugere uma relação entre saúde da população e determinantes sociais”, afirmou a pesquisa.
DCNTs equivalem a 71% das mortes
Conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde), as doenças crônicas não transmissíveis correspondem a 41 milhões de mortes por ano no mundo. Esse número equivale a 71% dos óbitos. Em solo brasileiro, as mortes causadas por DCNTs aumentaram, de 60,4%, em 1990, para 75,9% em 2017.
Segundo a OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), os custos de tratamento e relativos à perda de produtividade para a saúde e a economia do país chegam a aproximadamente U$S 72 bilhões (R$ 396 bilhões).
Soluções para conter os problemas
Rodrigo Lamounier dá soluções para conter as doenças crônicas não transmissíveis, causas pela obesidade, sedentarismo e consumo excessivo de álcool. “A questão importante é fazer uma discussão sobre a questão da rotulagem de alimentos, especialmente de uma maneira a desestimular o consumo alimentos ultraprocessados, com muitos carboidratos e gorduras trans”.
“O incentivo à prática regular de atividades físicas, no sentido de ser uma políticas pública, também é uma solução. É importante você ter condições para a prática, praças públicas que estimulem a população a ficar fisicamente ativa e prevenir até mesmo doenças cardiovasculares”, complementa.
Alimentação saudável é possível
Para o presidente SBEM Minas Gerais, é importante ter foco em um ritmo de vida que priorize a alimentação saudável com alimentos coloridos, bastante consumo de água e evitando bebidas açucaradas. O endocrinologista observa que até as camadas mais simples economicamente são capazes de se alimentar melhor.
“Arroz e feijão são uma excelente base alimentar. No Brasil, ainda, nós temos acesso a verduras e frutas não tão alto custo, se for comparar à Europa por exemplo. Nós ainda temos condição de termos folhas, elas não são caras de maneira geral”, aponta Rodrigo.
Ele diz que “o importante é o incentivo ao consumo do que é fundamental, e o desincentivo ao consumo dos ultraprocessados, evoluindo para uma rotulagem como foi feito com o cigarro”, insiste.
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