A Ômicron provocou uma explosão de novos casos de Covid ao redor do mundo, mas, para algumas pessoas, a doença não é bem uma novidade. Com a característica de escapar da imunidade, a variante tem infectado quem já teve a doença anteriormente. E aproveita o relaxamento das medidas de isolamento social, como detalha o infectologista e diretor médico da Target Medicina de Precisão, Adelino Melo Freire.
O infectologista explica que a Ômicron tem uma capacidade maior de escapar da proteção imunológica em relação a outras variantes do coronavírus.
“Ela é muito mais eficiente nesse processo de evasão imune, que é, na essência, escapar do nosso sistema de defesa. E não é a toa que ela está fazendo esse estrago todo. Isso serve tanto para a proteção causada pela vacina como por infecções anteriores, por isso acontecem as reinfecções”, afirma.
Além de conseguir escapar do sistema de defesa do corpo humano com mais facilidade, a Ômicron também é mais transmissível do que outras cepas do vírus, o que amplifica o risco de contrair a Covid, seja pela primeira ou por mais vezes.
Para Freire, a variante Delta já era um problema em relação à capacidade de disseminação. E a Ômicron tem uma taxa de transmissão dez vezes mais alta.
Para tornar o cenário ainda mais favorável à disseminação do coronavírus, a Ômicron encontrou o Brasil em um momento de avanço da vacinação e de relaxamento de medidas sanitárias para contenção da transmissão da Covid.
“Todo o cenário é uma bomba. Você não precisava fazer muito exercício de futurologia para imaginar o que iria acontecer: uma explosão de casos como a gente está vendo agora”, comenta Freire.
O infectologista, no entanto, ressalta que as reinfecções em nada depõem contra a eficiência das vacinas, que são essenciais para uma manifestação amena da doença. Os imunizantes não eliminam completamente a chance de se contrair um vírus, mas suavizam sua ação no organismo.
“Tem que estar claro que a vacina continua protegendo, principalmente contra casos graves. Não é como se a vacina não seja mais necessária ou não cumpra sua função. Ela tem um papel importantíssimo e a prova disso é que, dia após dia, a gente está batendo recorde de casos e o número de ocupação é menor do que um ano atrás, no auge da pandemia e sem uma boa cobertura vacinal”, afirma.
Para quem teve a Covid antes e depois da vacina, a explicação do médico foi percebida na prática. A administradora de empresas Karina Ignacio, 35, teve a doença pela primeira vez em maio de 2021, antes de ser vacinada, e voltou a contrair o coronavírus em janeiro deste ano.
“Da primeira vez foram cinco dias muito dolorosos e fiquei três dias internada na UPA. A sensação é horrível, de muito cansaço. Da segunda vez eu me senti mal também, mas por menos tempo e não precisei ficar no hospital”, conta a moradora de Divinópolis, no Centro-Oeste do Estado.
O mesmo aconteceu com o estudante Caio Silva, de 20 anos. Ele conta que a Covid deixou sequelas mesmo depois de se recuperar da primeira vez. E diz que a segunda infecção não teve o mesmo impacto.
“A primeira vez foi antes da vacina, em julho de 2021. Tive febre e fiquei tossindo durante uma semana e umas três semanas sem sentir cheiro e gosto, mesmo depois de curado. Na segunda vez, em janeiro de 2022, não senti nada. Testei porque tive contato com pessoas que tiveram a doença, mas fiz o isolamento e não passei para ninguém de casa”, conta o estudante. Caio testemunha que o efeito da vacinação foi enfraquecer o potencial de transmissão do vírus.
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