Por que sentimos culpa ao estar felizes, diante do sofrimento dos outros?

Por Dentro De Tudo:

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O que deveria ser um momento de alegria pode, para algumas pessoas, ser acompanhado por um desconforto emocional: a culpa. É comum que, ao estar feliz, principalmente quando vemos outras pessoas em sofrimento, experimentemos um sentimento negativo que diminui o prazer da nossa própria felicidade. Especialistas explicam que esse fenômeno está relacionado a diferentes fatores psicológicos e sociais.

Segundo o psiquiatra Bruno Brandão, a tendência a sentir culpa pela felicidade está ligada à capacidade de empatia e à “teoria da mente”, habilidade que nos permite imaginar como o outro se sente e o que está pensando. Pessoas com uma empatia elevada podem sentir que sua felicidade é desproporcional ao sofrimento alheio, o que gera o sentimento de injustiça. Isso, por vezes, é reforçado por crenças familiares que associam felicidade à egoísmo, especialmente quando há sofrimento à vista.

Outro fator apontado pelo psicólogo Cláudio Paixão é a sensação de não merecimento. Pessoas que, ao longo da vida, foram rotuladas de incompetentes ou medíocres, muitas vezes sentem que precisam sofrer para “pagar” por algo bom que lhes acontece, resultando em um sentimento de culpa diante da felicidade. Além disso, o desejo de ajudar os outros pode gerar uma sensação de dívida, em que a pessoa não consegue desfrutar da própria alegria por pensar no sofrimento do próximo.

A situação torna-se preocupante quando a culpa se torna paralisante. Segundo Brandão, esse tipo de sentimento pode levar a um estado constante de autossabotagem, no qual a pessoa evita momentos de prazer e boicota seu próprio bem-estar. Esse processo pode desencadear quadros de ansiedade, depressão e sentimentos de inutilidade. A dificuldade em compartilhar boas notícias com os outros também pode limitar a conexão social genuína.

Para equilibrar esse sentimento, Brandão recomenda que se reconheça que a felicidade não é algo limitado. A felicidade de uma pessoa não impede que outra seja feliz, e, pelo contrário, uma pessoa em bem-estar pode influenciar positivamente as pessoas ao seu redor. Ele também sugere a prática da empatia ativa, que transforma a preocupação com o sofrimento do outro em ações concretas de apoio, e a importância de estabelecer limites emocionais para entender que o sofrimento dos outros não é uma responsabilidade direta nossa.

Por fim, a autorreflexão é essencial para entender o que realmente está por trás dos sentimentos de culpa, e, se necessário, procurar apoio profissional. Quando o sentimento de culpa se intensifica, a orientação é buscar ajuda psicológica ou psiquiátrica.

Fonte: O TEMPO

Foto: Freepik

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