A série “Adolescência”, da Netflix, chamou atenção ao retratar a história de Jamie (Owen Cooper), um adolescente de 13 anos acusado de matar uma colega de classe. O enredo lança luz em temas complexos como misoginia, masculinidade e redes sociais, e provocou uma série de discussões sobre a violência entre crianças e adolescentes.
Em setembro do ano passado, a reportagem da Itatiaia conversou com especialistas sobre as origens desses atos de violência. Para a socióloga Andreia dos Santos, a violência nas escolas está enraizada em uma sociedade que é estruturalmente violenta, afetando todas as classes sociais. Embora episódios em escolas particulares sejam frequentemente destacados, ela destaca que o problema é amplamente disseminado, indo além do bullying.
A psicóloga Nay Macedo complementa essa análise, apontando que os episódios de violência têm causas multifatoriais. A forma como meninos são educados em uma sociedade que valoriza a masculinidade é um dos fatores principais, segundo a especialista. Ela explica que os meninos são frequentemente socializados para associar masculinidade à força, brutalidade e violência, o que impacta o desenvolvimento físico, emocional e comportamental dessas crianças.
Outro fator importante mencionado por Nay é o impacto da pornografia mainstream, amplamente disponível na internet. Para ela, a exposição precoce a esse conteúdo pode distorcer a percepção dos meninos sobre intimidade, consentimento e respeito ao corpo do outro, normalizando a agressão física e sexual.
Os dados revelam que, em muitos casos, os agressores são meninos. A violência entre pares, como é chamada, varia dependendo do gênero da vítima. Meninos frequentemente sofrem agressões físicas, enquanto meninas são mais propensas a sofrer violência sexualizada ou emocional.
Os efeitos dessas violências nas vítimas podem ser devastadores. A psicóloga aponta que crianças que vivenciam abusos em casa ou na escola podem desenvolver transtornos como depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. Um aumento alarmante de autolesões e suicídios entre jovens, conforme estudos recentes, também é uma consequência dessa violência.
Para combater o problema, as especialistas enfatizam a importância de criar espaços seguros para as crianças e de educar meninos para que não associem poder à dominação ou agressão. Investir em um ambiente educacional de qualidade e valorizar os profissionais da educação também são passos fundamentais, segundo Andreia dos Santos. Além disso, a psicóloga defende a adoção de medidas de proteção e segurança online para crianças e adolescentes.
É necessário que a educação socioemocional e comportamental seja compartilhada por todos, não ficando apenas a cargo das mulheres ou educadoras. A presença ativa de homens na formação de meninos é fundamental para quebrar o ciclo de violência e promover o desenvolvimento saudável.
Crédito da foto: Reprodução | Netflix
Fonte: Itatiaia