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Preço de alimentos deve subir com guerra na Ucrânia, diz Ministra

Por Dentro De Tudo:

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A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou nesta quarta-feira (2) que a expectativa do governo é a de que o preço dos alimentos sofra uma alta, em mais uma consequência da guerra na Ucrânia.

A Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes no mundo e os preços do insumo devem subir por conta das dificuldades logísticas causadas pelo conflito e das sanções aplicadas por Estados Unidos e aliados.

“Isso tudo [essa alta dos alimentos] depende. Se a guerra acabar hoje ou amanhã, é um impacto [aumento de preço menor]. Se continuar por mais tempo, é outro”, disse a ministra.

Segundo ela, a estratégia do governo para evitar reajustes elevados será a diversificação de fornecedores de adubos e fertilizantes.

“Tudo vai depender do tempo [de duração da guerra]. A gente tem que diminuir esses impactos, achar alternativas para ter o fornecimento. O preço [quem faz] é o mercado. O trigo subiu nas alturas porque a a Ucrânia é um grande produtor. Hoje o mundo é globalizado. O preço [dos alimentos] a gente acha que terá uma alta. A soja subiu, caiu um pouco depois. O milho subiu e caiu depois. Isso é uma commodity. Temos de acompanhar e diminuir os impactos”, complementou.

A ministra esteve recentemente no Irã para tratar da venda de ureia. Também viaja para o Canadá em dez dias para negociar contratos de exportação de fertilizantes com base no potássio, principal deficiência do Brasil para garantir a safra que começa em outubro.

Para a safrinha, como é conhecido o plantio do milho no meio do ano, a ministra afirmou que os produtores possuem fertilizantes em estoque.

Ainda segundo a chefe da pasta, os importadores têm nos armazéns os chamados estoques de passagem (as sobras da última safra e os insumos que ainda precisam ser desembarcados). Especialistas estimam que esse estoque seja da ordem de 7 milhões de toneladas.

Procurada nesta quarta, a Anda (Associação Nacional para a Difusão de Adubos) não se manifestou.

Nos últimos anos, diversos fatores passaram a sinalizar uma escassez no fornecimento de fertilizantes —com impacto sobre os preços—, como a retomada das economias de Estados Unidos e China após a retração da pandemia; uma crise energética chinesa e a falta de contêineres no mercado de transporte marítimo.

Também impactou o pacote de sanções aplicado contra Belarus —outro importante fornecedor— pela União Europeia desde o final de 2020. O bloco acusa o líder do país, Aleksandr Lukashenko, de ter fraudado as últimas eleições presidenciais.

No ano passado, os fertilizantes russos representaram cerca de 22% do total importado pelo Brasil. No caso dos insumos potássicos, a Rússia é o segundo produtor mundial.

Com a deflagração da guerra na Ucrânia, a tendência é que a situação se agrave e que seja mais difícil acessar fertilizantes no mercado internacional.

A principal preocupação é com os insumos feitos com base no potássio, uma vez que a produção internacional é concentrada em Rússia, Belarus e Canadá.

Com a imposição de sanções contra Rússia e Belarus pelos Estados Unidos e aliados, a busca do produto nesses países fica prejudicada e mais cara.

Algumas transportadoras internacionais já anunciaram a suspensão de encomendas de cargas russas.

Além do mais, as punições contra o sistema bancário do país podem dificultar as transações de compra e venda dos produtos —bem como a celebração de contratos de seguros.

De acordo com interlocutores, é improvável que a Rússia fique totalmente impossibilitada de vender seus fertilizantes. O país conta com um frota própria de cargueiros que, em tese, podem continuar realizando transporte marítimo.

Mas especialistas temem que, mesmo nesse cenário, as sanções americanas possam criar obstáculos para o reabastecimento desses navios no destino —como ocorreu com embarcações iranianas que ficaram paradas no Brasil em 2019.

Sob condição de anonimato, um diplomata afirma que sanções não impedem o comércio internacional, mas fatalmente deixam esse intercâmbio mais caro.

Diante do cenário, o Ministério da Agricultura vem adotando medidas para tentar diversificar os fornecedores de fertilizantes ao país.

Na viagem de Tereza ao Irã, a ministra recebeu a avaliação de que era possível aumentar as vendas para o Brasil apenas de fertilizantes nitrogenados (ureia).

Por outro lado, especialistas afirmam que a principal dificuldade do Brasil será garantir o acesso a fertilizantes feitos com base no potássio, um mercado muito mais concentrado.

Além do mais, mesmo ampliação das vendas iranianas depende de logística. O estabelecimento de linhas regulares de transporte, por exemplo, ainda espera garantias do governo Bolsonaro de que navios do país persa não ficarão sem apoio e combustível nos portos brasileiros, também por conta de sanções dos EUA.

Outra ação preparada pelo Planalto é o lançamento de um plano nacional de fertilizantes.

O projeto tem dois pilares: reduzir a dependência do mercado internacional e criar mecanismos para que não haja excessiva variação de preços para o consumidor nacional.

A elaboração de uma estratégia de longo prazo está sendo coordenada pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) desde o início de 2021, a partir da leitura de que eventos como as sanções contra Belarus poderiam afetar a cadeia de fornecimento ao país.

“Tínhamos que fazer uma política nacional para mudar essa dependência das importações. Não vamos ter autossuficiência, mas [vamos] mudar essa matriz”, declarou Tereza Cristina.

As sanções contra Belarus são anteriores à eclosão da guerra e culminaram, no início de fevereiro, na suspensão das vendas de fertilizantes do país europeu ao Brasil.

“Em 1º de fevereiro de 2022, devido a jogos políticos, o governo do pequeno país da Lituânia, nosso vizinho com 2,7 milhões de habitantes, proibiu o trânsito de fertilizantes potássicos belarussos por razões espúrias através do porto marítimo de Klaipeda”, disse o embaixador de Belarus no Brasil, Sergey Lukashevich

“As restrições dos EUA ao potássio belarusso não têm nada a ver com a situação atual na Ucrânia, é uma longa história: é o resultado da pressão sobre a Belarus após a eleição em nosso país em agosto de 2020.”

De acordo com interlocutores, não há expectativas da retomada do fornecimento de potássio belarusso pelos próximos 12 meses, pelo menos.

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