A influenciadora digital Virginia Fonseca compareceu à CPI das Apostas Esportivas (CPI das Bets) em um momento que evidenciou, mais uma vez, a interseção cada vez mais visível entre o universo das celebridades digitais e o campo político-institucional. Vestida com um moletom infantil que estampava uma foto de sua filha, usando óculos e sem maquiagem, a influenciadora adotou um visual que destoava radicalmente da imagem glamourosa que costuma exibir em suas redes sociais. Durante seu depoimento, confundiu o canudo do copo com o microfone — gesto que viralizou e gerou comentários irônicos nas redes.
Mais do que o conteúdo de seu testemunho, foi a sua aparência e postura que dominaram a repercussão pública. A mudança brusca de visual foi percebida por muitos como uma estratégia calculada. A influenciadora perdeu cerca de 600 mil seguidores no Instagram logo após a audiência. Personalidades como o DJ Zé Pedro, repostado por Luana Piovani, criticaram a escolha estética, comparando-a ao visual adotado por mulheres acusadas de crimes, como Suzane von Richthofen.
A professora Camila Mantovani, da UFMG, analisou o episódio à luz das estratégias de comunicação política. Segundo ela, Virginia lançou mão da chamada “estética da inocência”, frequentemente usada para gerar empatia e humanização, transmitindo a imagem de uma pessoa comum e frágil diante do aparato institucional. A lógica por trás disso, segundo a especialista, é desviar a atenção do conteúdo técnico do depoimento e gerar identificação emocional com o público — recurso muito presente nas redes sociais.
Além disso, Mantovani apontou que a influenciadora transportou para o ambiente da CPI os códigos da performance digital: ironia, pausas dramáticas e um visual “fofo” que facilita recortes em vídeo, memes e viralizações. Nesse contexto, a própria CPI teria se mostrado vulnerável à espetacularização, funcionando menos como um processo jurídico e mais como um palco midiático.
O episódio também reacende o debate sobre responsabilidade no universo da influência. Celebridades digitais como Virginia são legitimadas por um público que as considera relevantes — o que implica responsabilidades sociais e éticas. Ao afirmar desconhecimento sobre os conteúdos e produtos que promovia, a influenciadora parece tentar se eximir de tal responsabilidade, expondo o lado frágil de uma lógica baseada na visibilidade, mas não necessariamente no compromisso.
“As celebridades são um termômetro social”, afirma Mantovani. Para ela, o caso evidencia como a sinceridade performática tem ganhado mais espaço do que a responsabilidade real — uma inversão de valores que define boa parte do atual cenário digital.
Foto: Agência Senado
Fonte: Reportagem de Raphael Vidigal Aroeira, Estado de Minas
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