Pesquisador da Unicamp lidera estudo promissor que pode revolucionar o diagnóstico precoce da doença mais comum entre as demências
Durante o 50º Congresso Brasileiro de Análises Clínicas, que ocorre até o dia 18 em Campinas (SP), uma inovação chamou a atenção da comunidade científica: um teste de saliva capaz de detectar marcadores da Doença de Alzheimer até 20 anos antes dos primeiros sintomas. A descoberta é liderada pelo doutor em biotecnologia Gustavo Alves Andrade dos Santos, pesquisador colaborador da Unicamp e pós-doutorando na USP de Ribeirão Preto.
Segundo ele, a saliva é uma fonte rica em substâncias que podem indicar alterações no organismo, entre elas proteínas ligadas ao Alzheimer, como a tau hiperfosforilada (pTAU). “Já sabemos que é viável detectar o Alzheimer dessa forma, e agora vamos estender a pesquisa para grupos de diferentes faixas etárias”, explica Santos. A identificação precoce é essencial porque as alterações cerebrais provocadas pela doença se iniciam cerca de duas décadas antes dos sintomas clínicos aparecerem.
Mudança no entendimento da doença
Até pouco tempo, o Alzheimer era classificado em três fases: leve, moderada e avançada. Hoje, porém, é tratado como uma doença em contínuo, que começa em um estágio pré-clínico – com acúmulo de proteínas tóxicas no cérebro – e segue para uma fase prodromal, em que os sintomas são leves e muitas vezes confundidos com o envelhecimento natural.
A proposta de usar a saliva representa uma alternativa não invasiva, de baixo custo e com alto potencial de rastreio em massa, especialmente em países com poucos recursos como o Brasil. A meta agora é buscar apoio de investidores para avançar os estudos e validar o teste em larga escala.
Como prevenir o Alzheimer?
Apesar de ainda não existir cura para a doença, a ciência já identificou formas de retardar ou evitar seu aparecimento por meio da prevenção de fatores de risco. O Dr. Gustavo ressalta que hábitos saudáveis são os maiores aliados:
- Prática regular de atividades físicas
- Alimentação equilibrada, rica em vegetais, grãos e ômega-3
- Controle de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e colesterol alto
- Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool
- Estimulação cognitiva constante, por meio de leitura, jogos, aprendizado contínuo
- Sono de qualidade e controle do estresse
- Manter conexões sociais e afetivas
Além disso, o nível de escolaridade está diretamente ligado à chamada reserva cognitiva – quanto maior a estimulação mental ao longo da vida, maior a proteção contra os impactos das alterações cerebrais causadas pela doença.
Um alerta para o futuro
Estudos indicam que, até 2030, cerca de 75 milhões de pessoas no mundo viverão com algum tipo de demência — sendo o Alzheimer a mais comum. A maioria desses casos estará concentrada em países de baixa e média renda, onde a prevenção e o diagnóstico precoce ainda enfrentam muitos obstáculos.
“Detectar os biomarcadores da doença antes que os sintomas apareçam pode ser o passo que faltava para mudar esse cenário. A ciência está avançando, mas é preciso que as políticas públicas acompanhem”, afirma o professor Santos.