A presença marcante de mineiros nas praias de Guarapari, no Espírito Santo, vai muito além do turismo moderno — ela tem raízes profundas na formação territorial do Brasil. Segundo historiadores, essa ligação remonta ao século XVI, quando parte do atual território mineiro integrava a antiga Capitania do Espírito Santo.
Reportagem especial exibida neste sábado (26) no programa Terra de Minas, da TV Globo, mostra como o desmembramento da capitania, a exploração do ouro no século XVIII e a ausência de barreiras regionais facilitaram o surgimento de rotas que uniriam Minas ao litoral capixaba.
“Não havia um sentimento de mineiridade ou capixabismo. As elites buscavam criar vias de comunicação e escoamento”, explica o historiador Ueber José de Oliveira, da Universidade Federal do Espírito Santo.
Desde o século XIX, a construção de estradas para transporte de mercadorias já revelava a força dessa conexão. No século XX, com a inauguração da ferrovia Vitória-Minas e, mais tarde, com a popularização do transporte rodoviário e das férias remuneradas, o litoral passou a ser visto como destino de lazer para trabalhadores e classe média de Minas.
A historiadora Patrícia Merlo lembra que a maioria dos turistas mineiros desembarcava de trem na estação Pedro Nolasco, de onde seguia de ônibus até as praias de Guarapari. Esse movimento impulsionou um verdadeiro boom turístico nos anos 1950 e 1960, moldando a identidade da cidade.
“Guarapari sem mineiro não é Guarapari”, resume Patrícia. O vínculo afetivo e histórico se consolidou ao longo das décadas, transformando a cidade capixaba em um dos principais destinos turísticos dos mineiros — elo que começou com a divisão das capitanias e hoje se traduz no sotaque “uai” ecoando nas areias da Praia do Morro.
Fonte: g1 Minas | Reportagem de Fred Bottrel
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