No coração de Belo Horizonte, o Edifício JK, projeto icônico concebido por Oscar Niemeyer na década de 1950, abriga mais de cinco mil moradores em seus 1.086 apartamentos. Tombado como Patrimônio Cultural em 2022, o edifício agora é centro de uma batalha judicial que expõe disputas de poder, acusações de má gestão e o drama de sua conservação.
À frente da administração há mais de quatro décadas, a síndica Maria das Graças Lima é apontada por moradores como responsável pelo sucateamento da estrutura e pela falta de transparência na gestão financeira. Eles denunciam infiltrações, acúmulo de lixo e obras inacabadas, como a reforma de janelas iniciada em 1995 que nunca foi concluída, mas segue gerando cobranças de taxas até hoje.
O Ministério Público ingressou com ação penal contra Maria das Graças e o gerente do prédio, Manoel Gonçalves de Freitas Neto, por omissão na manutenção. O processo, que terá audiência em outubro, alega que a ausência de medidas adequadas contribuiu para a deterioração do patrimônio. Entre as irregularidades estão a falta de Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros e a ausência de impermeabilização predial.
A promotoria também pediu o afastamento cautelar dos administradores, mas a Justiça negou a solicitação em abril deste ano. A juíza Maria Isabel Fleck considerou não haver urgência e destacou que a síndica havia sido reeleita em dezembro de 2024, o que demonstraria, segundo ela, legitimidade para permanecer no cargo.
A defesa da síndica afirma que todas as intervenções estão sendo feitas na “velocidade possível”, alegando que o tombamento exige autorizações públicas demoradas e que a maioria dos condôminos tem poucos recursos financeiros.
Apesar disso, os moradores contestam e acusam a administração de agir como um “estado paralelo”, impondo regras autoritárias, como a ameaça de processos a quem criticasse o condomínio. Em outro episódio, opositores denunciaram que Maria das Graças chegou a exigir uma caução de R$ 4 milhões para permitir a participação de uma chapa rival nas eleições internas.
Enquanto a disputa avança nos tribunais, o Edifício JK, um dos cartões-postais de Belo Horizonte, vive a contradição de ser ao mesmo tempo patrimônio histórico e palco de polêmicas que dividem seus moradores e colocam em xeque sua preservação.
Foto: Edmilson Vieira / g1 Minas
Fonte: g1 Minas
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