O número de ofertas de emprego no modelo home office cresceu exponencialmente no primeiro ano da pandemia da Covid-19, registrando 309% de aumento durante 2020 – ou o equivalente a 2.428 vagas nesse regime de trabalho. Os dados são de um levantamento realizado pelo site recrutamento e seleção Vagas.com.
A tecnologia foi o principal setor que contribuiu com esse número, respondendo por 41% das oportunidades abertas. Completam o ranking os segmentos de finanças (11%), consultoria e gestão empresarial (10%), seguros (8%), telecomunicações (7%) e educação (4%). Os outros 19% correspondem a setores variados. O crescimento dessa modalidade ajudou a expandir as chances de concorrer a vagas em todo o mundo.
Para o economista, consultor de mercado e professor da SKEMA Business School, Mário Marques, essa concorrência digital mundial já estava em curso quando a pandemia acelerou o processo. “Destravou muitos entraves que rodeavam o trabalho remoto, demanda que há tempos fazia parte de conversas que não evoluíam na velocidade possível. Dessa forma, o Coronavírus escancarou para o mercado que as empresas podem ter diversidade e contratar profissionais de todo o mundo porque também é economicamente interessante”, avalia.
“Isso abre portas em todo mundo para os profissionais brasileiros. E acirra a disputa porque o candidato não concorre mais com os moradores de sua cidade. São competidores com formação de qualquer parte do globo, formado em universidades de prestígio internacional e com vivências variadas” comenta.
Para o especialista, o home office e o formato híbrido vieram para ficar e os profissionais precisar estar preparados para as novas demandas de carreira que surgem a partir desses novos modelos de trabalho. Marques dá dicas para quem desejar tentar postos fora da cidade onde mora e, até internacionalmente.
Veja abaixo cinco pilares que os profissionais devem investir para construir uma carreira sólida em tempos de concorrência mundial:
– Idiomas: falar pelo menos inglês é fundamental para conseguir trabalhar fora do Brasil e destacar-se nas melhores vagas nacionais. Vale destacar o mandarim como uma opção interessante já que não é tão popularizado e os negócios com a China crescem muito no ocidente.
– Atualização permanente: dedicar pelo menos 4 horas de estudos semanais para atualização em sua área, profissões relacionadas e cursos suplementares. Bem como seguir nas especializações, mestrados, doutorados e MBA´s
– Relacionamento global: networking de qualidade com pessoas e empresas ao redor do mundo dentro de sua carreira e em possíveis áreas de ampliação profissional
– Inteligência emocional: buscar modos de crescimento pessoal pois o mercado global demanda pessoas com características como resiliência, autonomia, criatividade e empreendedorismo pessoal da mesma forma em que busca excelência técnica
– Inovação individual: criar meios de estar inovando em técnicas, processos, fluxos e perspectivas pessoalmente e em temas específicos de cada carreira é uma forma de antecipar-se às demandas das empresas e sair na frente em uma seleção
Oportunidade de ‘ouro’
O economista Samuel Vaz-Curado nunca pensou em morar na praia trabalhando para uma empresa de São Paulo. Ele se mudou para Aracaju, em Sergipe, para fazer um mestrado. Começou a dar aulas e quando era hora de voltar para casa surgiu a chance dos sonhos: trabalhar para o mercado paulista morando no Nordeste.
Em formato de home office, o jovem de 28 anos candidatou-se à vaga e agora tem a qualidade de vida e o crescimento de carreira que tanto sonhou. “Sou paulista e comecei minha carreira em São Paulo, mas com a pandemia e com os processos seletivos digitais, percebi que eu não preciso estar no lugar onde a empresa que trabalho tem sede. Essa concorrência virtual é boa para as empresas, para os funcionários e torna o mercado mais competitivo”, conta.
“Eu gosto desse modelo e me sinto livre para buscar oportunidades em qualquer lugar do mundo. Estar fisicamente distante não impacta negativamente minha produtividade. Sinto falta de alguns benefícios do trabalho presencial, como os encontros e a troca que se dá nesses momentos. Porém, viajo sempre que necessário para São Paulo e percebo que aproveito ainda mais os momentos” revela.
Já a estudante Luísa Naves, 21 anos, ainda não se formou e já experimentou essa concorrência digital. Ela foi contratada como estagiária em um escritório paulista que tem escritório em outros quatro estados. E conta que o chefe, também brasileiro, mora em Boston, nos Estados Unidos.
“Eu acho que isso muda muito a competição entre os candidatos e fazer meu estágio em São Paulo morando em Belo Horizonte foi incrível. Eu recebo vagas de todo brasil agora e vejo que há flexibilidade de contratação e estou atenta às exigências dessa nova competição que deixa de ser local e passa a ser agora nacional e internacional. Meu estágio lá acabou, mas aprendi com essa oportunidade principalmente a ficar de olho no mundo todo” comenta.