A Instância de Governança Circuito Turístico das Grutas (IGR Grutas) e a Emater-MG mantêm uma parceria que vem impulsionando os negócios da agricultura familiar em Minas Gerais, transformando tradições e modos de vida em experiências turísticas de grande valor.
É nesse contexto que surge a Trilha do Cipó, em Santana de Pirapama, uma iniciativa idealizada por Geralda Ilza Coutinho da Silva, a Santa, que desponta como exemplo de como a simplicidade da roça pode se tornar fonte de renda, cultura e inspiração.
No coração da Cordilheira do Espinhaço, entre montanhas e águas cristalinas, a Trilha do Cipó nasceu de uma rotina marcada pelo acolhimento e pela hospitalidade mineira. Hoje, a iniciativa se fortalece com o apoio da IGR Grutas e da Emater e já sonha em integrar o catálogo Ruralidade Viva em 2026 — que neste ano de 2025 reuniu 137 experiências de todo o estado.
“O nome Trilhas do Cipó surgiu porque nós estamos a 7 km do rio Cipó. E passando pelo Gentica, a nossa região, estamos de 4 a 5 km de atalho da estrada principal”, conta Santa, lembrando das origens da proposta que envolve também sua irmã, Irene Geralda Coutinho da Silva, e a cunhada, Terezinha Alves Costa Coutinho.
Tradição que se transforma em experiência
A inspiração para transformar a rotina da roça em experiência turística nasceu de forma natural. “Na verdade, nós estamos começando agora. As pessoas sempre passam por lá, a gente oferece um café, uma conversa. E teve várias pessoas que já falaram que era coisa de cobrar. Agora estamos estruturando para receber com agendamento, para ficar mais fácil”, explica.
No cardápio da hospitalidade estão quitandas aprendidas com a mãe: biscoitos, queijo, bolo de fubá, frango caipira, carne de panela e saladas fresquinhas da horta. “É tudo saudável, limpo e da roça. O frango é do quintal, a verdura da horta. Eu me sinto privilegiada de morar na roça, com fartura, água limpa, passarinhos e simplicidade. Isso é riqueza”, destaca.
A roça como herança e inspiração
A história da família Coutinho é também a história de resistência do campo mineiro. “Nós somos oito irmãos criados pelo meu pai e minha mãe trabalhando na roça. O sustento veio todo de lá. Tinha farinha, frango, rapadura, pinga, biscoitos, doces. Era fartura, nunca faltou comida. O que sobrava, a gente vendia”, relembra Santa com orgulho.
Esse vínculo profundo com a terra agora é compartilhado com os visitantes. “Eu costumo dizer que na roça é assim: nós temos um chá para cada dor, e uma benzeção para cada aflição. Essa pureza e simplicidade me encantam”, completa.
Do convívio às oficinas
O projeto, que já participou de festivais como o Festur Ouro Preto 2025 e a Next Travel Minas Gerais, também aposta em oficinas criativas e terapêuticas.
“Nós temos argila, e a gente quer fazer oficinas para crianças e adultos. Já vi que no começo o pessoal tem receio de sujar a mão, mas logo todo mundo está criando, interagindo, rindo. Minha neta faz bonecas lindas de argila. É emocionante”, relata.
Além disso, as oficinas incluem culinária. “Eu gosto de colocar a meninada para fazer biscoito. Cada um enrola o seu, sai coração, sai boneca, sai de tudo. É lindo de ver. E o melhor: esquecem do celular”, brinca.
O som da natureza também é parte do encanto. “Lá tem um córrego que faz aquele barulhinho gostoso da água, parece melodia para descansar”, descreve Santa. Quem quiser prolongar a experiência pode até se hospedar na casa da irmã Irene. “É simples, mas aconchegante. Dá para visitar as cachoeiras e voltar para dormir lá”, completa.
Uma roça que permanece viva
Mais do que oferecer café, quitandas e oficinas, a Trilha do Cipó quer ser um instrumento de valorização da vida rural e de permanência das famílias no campo. “Essa oportunidade mostra que é possível tirar sustento da roça. Que não é preciso abandonar as casas antigas e o fogão a lenha. É possível continuar e mostrar a riqueza que temos”, afirma Santa.
Com a parceria entre a IGR Grutas e a Emater, o projeto ganha fôlego e se transforma em referência do turismo rural no Circuito das Grutas. Santana de Pirapama já se prepara para brilhar. “Nós estamos no caminho das cachoeiras. Quem passar por lá vai encontrar acolhimento, café quente, quitanda e muita prosa boa. É isso que queremos mostrar ao mundo”, conclui Santa.