O adolescente de 16 anos que confessou ter matado o pai, a mãe e a irmã adotivos no fim de semana, na Zona Oeste de São Paulo, falou sobre o crime em depoimento à Polícia Civil com “tranquilidade”, demonstrando frieza, e se surpreendeu que ficaria apreendido. Ele está internado na Fundação Casa.
O delegado do caso, Roberto Afonso, do 33º Distrito Policial de São Paulo, explicou no fim da manhã desta terça-feira (21) que a investigação ainda está no início e que, até o momento, sabe-se que se tratava de uma família pacata, que vivia há certo de dois anos no local. Isso, porém, será aprofundado. Em relação ao adolescente, ele disse que a investigação vai traçar um perfil do jovem.
“Ele se entregou no domingo, o crime foi na sexta, se passaram mais de 24h. Num primeiro momento ao ser entrevistado ele estava tranquilo. Acabou confessando o que houve. O remorso é uma questão bastante difícil de estabelecer aqui. Ele falou com tranquilidade do que houve? Falou. É difícil imaginar que você mata os pais e tem uma tranquilidade para falar sobre isso”, disse. “Sempre chama atenção [a frieza], são familiares. Matou três. Tem um espaçamento de tempo, ele poderia ter desistido em algum momento. Lá na frente vamos conseguir traçar um perfil mais preciso em relação ao garoto”, afirmou o delegado.
Na sexta-feira (17), o adolescente matou a tiros o pai e depois a irmã. Na sequência, ele relatou ter ido até a academia, que costumava frequentar com o pai. Depois de malhar, o jovem retornou para casa e esperou a mãe chegar. Após ela ver o marido e a filha mortos, o adolescente também atirou nela. No dia seguinte, ele ainda golpeou o corpo da mãe com uma faca. Na noite de domingo (19), ele ligou para a Polícia Militar (PM) para se entregar.
“Vamos ter que aprofundar a razão pela qual o eixo central da ira dele foi voltado pra mãe. É muito cedo pra gente cravar alguma situação específica com relação ao garoto, vamos buscar mais informações”, afirmou Afonso.
A arma utilizada no crime era do pai, que trabalhava como Guarda Municipal, em Jundiaí (SP). Antes de fazer os disparos para matar a família, o garoto testou a arma em um colchão. Ele disse que sabia onde ficava o armamento do pai. Até o momento, o adolescente alegou que cometeu o crime porque teve o celular e o computador retirados pelos pais, que o teriam chamado de “vagabundo”.
“É um caso sui generis [incomum], ainda estamos investigando uma série de circunstâncias que estão em volta do fator principal que é a motivação do crime, em relação à perda do aparelho de telefonia móvel. Ele falou que a família estava reticente com ele, que ele era ‘vagabundo’, porque devia estar o dia inteiro no telefone. No aparelho tinha material de escola, que, segundo ele, faria apresentação e isso prejudicou ele”, contou o delegado.
De acordo com Afonso, a polícia aguarda a perícia dos aparelhos telefônicos do garoto e das vítimas, além do computador dele. Um dos objetivos é identificar se o crime teve a participação de terceiros. A polícia também tenta saber se ele manteve contato com alguém durante o fim de semana.
Além disso, vizinhos e familiares serão ouvidos oficialmente pela polícia. A escola onde o garoto estudava também será procurada pela polícia. Até o momento, não se tem registros de casos de violência envolvendo o adolescente e sabe-se que a irmã dele era uma boa aluna.
Informações da investigação dão conta de que ele tinha bom relacionamento com a irmã e, com base em relatos não oficiais de familiares à polícia, não havia nada que indicasse esse tipo de comportamento agressivo. O menino foi adotado quando tinha 3 anos.
Isac Tavares Santos, de 57 anos, Solange Aparecida Gomes, 50, e Letícia Gomes Santos, 16 anos, foram enterrados no fim da manhã desta terça, no Cemitério da Lapa, na Zona Oeste de São Paulo.
Fonte: Itatiaia.